top of page

"Os católicos da Revolução e o PCP" - Micro-biografia de Maria Vitória Pinheiro

Inserido num ciclo dedicado às comemorações dos 50º Aniversário do 25 de Abril, o Terra da Fraternidade divulga micro- biografias de algumas dos católicos com um papel de destaque no combate ao regime fascista e conquista da democracia.
Todas as micro-biografias são extraídas da tese de Doutoramento de Edgar Silva: "Vendaval de utopias. Do catolicismo social ao compromisso político em Portugal (1965-1976). Os católicos da Revolução e o PCP."

"Os católicos da Revolução e o PCP" - Micro-biografia de Maria Vitória Pinheiro

Maria Vitória Pinheiro – Do universo dos católicos da revolução, na revolução de 25 de Abril de 1974 integrou os movimentos sociais que protagonizaram a revolução em Portugal. Designadamente no movimento operário e na intervenção sindical, contribuiu para o germinar da revolução e participou ativamente no fazer da revolução portuguesa.

faleceu a 22 de julho de 2016. Foi a partir de 1944 telefonista da Empresa Pública CTT – Correios e Telecomunicações de Portugal, E.P. Foi dirigente do movimento operário católico da LOC – Liga Operária Católica e, antes, foi dirigente nacional da LOCF – Liga Operária Católica Feminina, entre 1964 e 1970. Logo depois, foi dirigente internacional, foi Secretária Geral Feminina do Movimento Mundial dos Trabalhadores Cristãos, com sede em Bruxelas. Destacou – se como ativa participante no CCO – Centro de Cultura Operária e militante da BASE. Em 1973, foi nomeada pela Santa Sé para membro da Comissão Pontifícia de estudo sobre «o papel da mulher no mundo e na Igreja».

Militante da BASE, Maria Vitória Pinheiro, é uma das referências mais notáveis da iniciativa transformadora da militância católica e representativa daquela que era a compreensão do alcance do compromisso consequente do catolicismo atuante. Por sua iniciativa foi criado «um GAS» – a BASE implementava a ação organizativa clandestina cuja visibilidade se realizava através da criação de GAS/Grupos de Ação Sindical por setores de atividade e, posteriormente, por Regiões – que promoveu o primeiro encontro de trabalhadores, em novembro de 1969, tendo por objetivo a formação do sindicato para os correios e telefonistas. Embora os «funcionários do Estado» estivessem durante o regime de Salazar e Caetano legalmente impedidos de se sindicalizar, com a transição dos CTT de serviço integrado na Administração Central do Estado para Empresa Pública colocou-se a possibilidade de afirmar o direito à sindicalização e a ter um sindicato.

Afrontando o regime, a 8 de abril de 1970,Vitória Pinheiro assumiu a dianteira da convocação de uma «reunião para formar um sindicato dos CTT». Desde aí, o GAS iniciou e conduziu aquela luta pelos direitos sociais e laborais naquela empresa. Realizada aquela reunião pró-sindical, foi formada uma Comissão com a incumbência de levar por diante os objetivos de sindicalização. Constituída a «Primeira Comissão Pró-Sindicato dos CTT» foi desencadeado um movimento reivindicativo que só viria a ser plenamente vitorioso, na sequência da Revolução de Abril de 1974, a 5 de maio de 1974 com a fundação do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações. Pelo meio terão ficado as marcas da repressão política, pressões e perseguições a todos quantos integraram aquele movimento de trabalhadores portugueses.

O percurso histórico de Vitória Pinheiro permite-nos compreender de forma mais nítida uma orientação assumida por sectores do catolicismo que era designada como sendo uma «espiritualidade de engajamento». Na prática, consistia no concretizar a aprendizagem da inserção nas estruturas da sociedade. Tratava – se de um processo em que aos católicos se colocava a incumbência da participação transformadora no mundo, onde, para além de despertar para o compromisso interventivo na sociedade, se criava consciência política. Emergia então um dado novo, pois, para além do sentido mais amplo do compromisso político, na ótica de sectores do catolicismo, o agir cristão ganhava a perspetiva específica de uma militância para a transformação do sistema social vigente. O fundamental não radicava em saber se os católicos participavam ou não da política, mas se a sua militância contribuía ou não para a edificação de uma Nova Sociedade, para a conquista da democracia. No dever de agir e, por conseguinte, nas concretizações da militância, foi ficando mais ou menos claro que não se tratava de descobrir uma política dos católicos, mas que os católicos teriam de buscar uma inserção política no trabalho em comum com os demais trabalhadores.

Destes processos emergentes daquele modo de ser cristão no mundo resultarão significativas incidências para a Igreja Católica e implicações profundas para a história social e política no Portugal contemporâneo.

16/01/2025

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

bottom of page