top of page

Jorge Trigo de Sousa e os católicos da revolução

Inserido num ciclo dedicado às comemorações dos 50º Aniversário do 25 de Abril, o Terra da Fraternidade divulga micro- biografias de algumas dos católicos com um papel de destaque no combate ao regime fascista e conquista da democracia.
Todas as micro-biografias são extraídas da tese de Doutoramento de Edgar Silva: "Vendaval de utopias. Do catolicismo social ao compromisso político em Portugal (1965-1976). Os católicos da Revolução e o PCP."

Jorge Trigo de Sousa e os católicos da revolução

Em 1964, o PCP decidiu criar as "ações especiais". Aquela orientação, depois de um moroso e complexo tempo de preparação de quadros e estrutura organizativa, deu origem à criação de uma organização armada que veio a ser a ARA – Ação Revolucionária Armada cuja finalidade era atacar em especial as infraestruturas e a logística do Estado envolvidas na guerra colonial.

De 1968 a 1970, as "ações especiais" reuniam cerca de 42 operativos, estando relativamente estáveis, aptos para executar ações planeadas.

Em 26 de outubro de 1970, a ARA - Ação Revolucionária Armada concretizou em Portugal a sua primeira ação contra a ditadura fascista através da sabotagem ao navio Cunene, que participava na logística de apoio à guerra colonial. Aquela foi uma etapa política, a que se seguiram outras intervenções, até maio de 1973, com o objetivo de atingir o regime na retaguarda do dispositivo militar colonial.

Na organização da ARA colaboraram católicos. Um deles fora então um elemento destacado da JUC, o Jorge Trigo de Sousa.

Jorge Trigo de Sousa, quando era estudante no IST – Instituto Superior Técnico, em 1966, foi contactado para integrar as "ações especiais". Depois de um processo de preparação, Jorge Trigo de Sousa faria parte da ARA, passou a fazer parte daquela rede clandestina que tinha por regra não dar conhecimento de outros membros, nem de outros dirigentes.

Jorge Trigo de Sousa foi “aluno dos Maristas”, no Externato dos Maristas, em Lisboa. Naquela “escola católica”, no Colégio de Artilharia Um, pertenceu à JEC, a partir do ano escolar !957/1958. Mais tarde, quando estudava no IST, viria a pertencer à JUC.

A possibilidade da luta armada por parte de católicos e o percurso de Jorge Trigo de Sousa não é insólito. De entre os diferentes itinerários dos “católicos da revolução” houve uma “esquerda católica” que desenvolveu a intervenção política à luz de um “cristianismo revolucionário”.

Houve, em Portugal, todo um contexto nacional e dinâmicas internacionais que se conjugaram e contribuíam para o aprofundamento do debate em círculos católicos acerca do recurso à luta armada para derrubar o regime de Salazar e Caetano. Já havia a memória do revolucionarismo de Manuel Serra e de outros católicos na luta contra o regime, a história do “Movimento da Sé” (12/3/1959) e do “Golpe de Beja” (1/1/1962). Entretanto, depois das denunciadas fraudes nas eleições presidenciais de 1958 e na sequência da candidatura de Humberto Delgado, com o impulso entusiástico trazido pelas revoluções cubana e argelina, com as notícias sobre o envolvente processo de diálogo entre cristianismo, marxismo e revolução, sob o influxo das experiências relatadas acerca da interação fé e revolução, quando se falava de Marighella e Camilo Torres, e à medida que crescia a contestação à guerra colonial, vai ganhando espaço a possibilidade do recurso à violência revolucionária armada.

Também em Portugal circulava a publicação da assertiva “Mensagem aos Cristãos” (1965) do Padre Camilo Torres: «O dever de todo o cristão é ser um revolucionário. O dever de todo o revolucionário é fazer a revolução».

Jorge Trigo de Sousa fez parte daquele universo dos “católicos da revolução” que em Portugal, até à revolução de 25 de Abril de 1974, integraram ou cooperaram com organizações revolucionárias armadas, que tinham por finalidade derrubar o regime e a construção do socialismo.

De entre as diferentes organizações revolucionárias armadas, a participação dos “católicos da revolução”, para além da ARA, foi expressiva na LUAR – Liga de União e Ação Revolucionária e nas Brigadas Revolucionárias.

14/04/2025

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

bottom of page