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"Os católicos da Revolução e o PCP" - Micro-biografia de Maria Luísa Palhinha da Costa Dias

Inserido num ciclo dedicado às comemorações dos 50º Aniversário do 25 de Abril, o Terra da Fraternidade divulga micro- biografias de algumas dos católicos com um papel de destaque no combate ao regime fascista e conquista da democracia.
Todas as micro-biografias são extraídas da tese de Doutoramento de Edgar Silva: "Vendaval de utopias. Do catolicismo social ao compromisso político em Portugal (1965-1976). Os católicos da Revolução e o PCP."

"Os católicos da Revolução e o PCP" - Micro-biografia de Maria Luísa Palhinha da Costa Dias

Edgar Silva foi padre e é investigador no Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa e dirigente do PCP.

Maria Luísa Palhinha da Costa Dias - médica de profissão, natural de Coimbra, onde nasceu a 15 de outubro de 1916, faleceu em acidente automóvel em Vila Franca de Xira com o dirigente comunista Pedro Soares, seu companheiro, a 10 de maio de 1975. Na década de 1930 fez parte do Socorro Vermelho Internacional. Aderiu ao MUD – Movimento de Unidade Democrática em 1945 e ao PCP. Em 1947, deslocou-se para Moçambique com tarefas partidárias com o seu companheiro Pedro Soares, tendo ambos regressado a Portugal em 1950. Em 1951 passaram à clandestinidade. Aquela militante relatou a sua experiência na obra Crianças Emergem da Sombra. Contos da Clandestinidade, um livro de contos que foi publicado postumamente, em 1982.

Maria Luísa da Costa Dias passou 7 anos nas prisões políticas do regime de Salazar e viveu 22 anos na clandestinidade. Pertenceu à Junta de Ação Patriótica e trabalhou na rádio Voz da Liberdade, em Argel. Sobretudo em Itália integrou projetos de solidariedade política e material com os povos vítimas do regime colonialista português. Foi militante do movimento da Paz, e participou em diversas iniciativas internacionais sobre os presos políticos em Portugal. Após a revolução de 25 de Abril, Maria Luísa da Costa Dias participou no congresso da Federação Democrática Internacional das Mulheres, em Varsóvia, fazendo parte da sua direção, e pertenceu ao Movimento Democrático de Mulheres desde a sua fundação.

Acerca de Maria Luísa da Costa Dias disse Álvaro Cunhal no discurso fúnebre: «Católica e comunista, que de um alto exemplo de dignidade e de firmeza moral, soube vencer de cabeça erguida as perseguições, a clandestinidade, a tortura e a prisão». [GES/PCP – Discurso fúnebre feito por Álvaro Cunhal. 13/05/1975].

Maria Luísa da Costa Dias, tal como outros cristãos, manteve com a sua mi¬litância comunista as suas convicções religiosas e a identificação com os valores do cristianismo. Como destacado quadro do PCP nunca deixou de se identificar com o catolicismo, preservou as razões de fé, mesmo na complexidade e dificuldade que, enquanto antifascista e pelas suas funções de militante, mergulhar na clandestinidade comportava.

Os testemunhos de outras mulheres comunistas da clandesti¬nidade, como Maria da Piedade Morgadinho ou Margarida Tengarrinha, destacam acerca de Maria Luísa Costa Dias, entre outros dos seus traços de personalidade, o «grande fervor reli¬gioso» e que «na prisão e nas casas clandestinas sempre estava acompanhada da sua Bíblia que lia todos as noites». [Cf. MDM – Mulheres de Abril. In mdm.org.pt/maria-luisa-costa-dias].

Se é verdade que com católicos com intervenção pública em movimentos e organizações da Igreja Católica, o PCP tratou de estabelecer formas de comunicação ou de ligação, mais ou menos informal, como uma das linhas de criação de elos com a sociedade portuguesa, para a compreensão de problemas e para eventuais práticas de influência, direta ou indireta, contudo, também existiram os casos de católicos que se tornaram militantes do PCP. Maria Luísa da Costa Dias corresponde a esses percursos dos «católicos da revolução». Dos «católicos da revolução» houve aqueles que se identificaram com o PCP ou que com aquele partido mantiveram ligações mais ou menos prolongadas no tempo.

5/04/2024

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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