"Os católicos da Revolução e o PCP" - Micro-biografia de Maria Augusta de Sousa
Inserido num ciclo dedicado às comemorações dos 50º Aniversário do 25 de Abril, o Terra da Fraternidade divulga micro- biografias de algumas dos católicos com um papel de destaque no combate ao regime fascista e conquista da democracia.
Todas as micro-biografias são extraídas da tese de Doutoramento de Edgar Silva: "Vendaval de utopias. Do catolicismo social ao compromisso político em Portugal (1965-1976). Os católicos da Revolução e o PCP.
Edgar Silva foi padre e é investigador no Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa e dirigente do PCP.
Maria Augusta de Sousa – natural de Montelavar, Sintra, onde nasceu em 2 de fevereiro de 1947, foi militante da JOC e dirigente nacional e internacional. Enfermeira por vocação, foi delegada e dirigente sindical do Sindicato dos Enfermeiros da Zona Sul, fez parte da CGTP-IN, da sua direção e organismos executivos, entre 1983-2003. Foi Bastonária da Ordem dos Enfermeiros (2004-2011). E é militante do PCP.
Maria Augusta de Sousa ganhou consciência social e cresceu na militância política como dirigente da JOC, muito antes da Revolução de Abril. O seu percurso de vida, feito de aprendizagem do compromisso social, tal como fora experimentado por outros militantes do movimento operário católico, decorre do processo de incubação no seio da LOC e da JOC, ao longo dos anos de 1950, de uma nova orientação de compromisso cristão, de uma outra cultura de militância operária, reforçada por uma incorporação da LOC e, em particular, da JOC, nas dinâmicas internacionais daquele movimento da Ação Católica. Aquelas dinâmicas desaguarão com vasta expressão no catolicismo e na sociedade portuguesa ao longo da década de 1960, até à revolução de Abril de 1974. Essa cultura de engajamento em muito se ficou a dever às dinâmicas geradas pelas campanhas com uma dimensão supranacional, suscitadas e sustentadas por encontros internacionais daqueles Movimentos. Então, o compro- misso social realizava-se, mormente, através daquelas campanhas e na expressão de massas que lhe conferiam as suas publicações. Já no final da década de 1950 a JOC mobilizara a militância operária católica para o «agir», na adoção de uma espiritualidade do «compromisso temporal», ou seja, com os cristãos imersos “nas coisas do mundo”.
Aos operários fora já incutida a mística da construção de um «mundo novo» e da indispensabilidade do «homem novo». Para a trans- formação da sociedade, os operários católicos seriam sujeitos da gestação desse «mundo novo»: «Para um homem novo, um mundo novo!».
A este propósito, em entrevista connosco, afirmou Maria Augusta de Sousa: «A consciência de que era imperiosa a participação é uma consciência muito forte, que se engendra e que se desenvolve, de forma mais intensa a partir de meados da década de 1960 para diante. O que criava consciência coletiva, consciência de participação e a interiorização de que não se podia ficar indiferente, de que não havia compromisso cristão sem enraizamento na realidade dos trabalhadores.»
Maria Augusta de Sousa, entre tantas outras mediações e projetos em que aprofundou uma cultura participativa, teve ativa participação na imprensa dos movimentos da Ação Católica para o mundo operário, integrou a coordenação de um inovador projeto de intervenção da Igreja Católica junto dos trabalhadores, intitulado “Pastoral Operária” e fez parte da da revista “Testemunho – Revista da Pastoral Operária”.
Com a afirmação do chamado «catolicismo social», alicerçado no pensamento social da Igreja, sobretudo, mas não exclusivamente, através da Ação Católica Portuguesa, antes da Revolução de 1974, ganhou significativa dinâmica o desenvolvimento de formas de militância social. Correspondeu a um extenso e pro fundo processo de formação de uma consciência cristã reflexiva e atuante na sociedade portuguesa.
É no contexto daquela militância social que se fez a politização de Maria Augusta de Sousa e onde, em Portugal, se foi consolidado o itinerário dos “católicos da revolução”.
10/06/2024
A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.