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"Os católicos da Revolução e o PCP" - Micro-biografia de Avelino Pacheco Gonçalves

Inserido num ciclo dedicado às comemorações dos 50º Aniversário do 25 de Abril, o Terra da Fraternidade divulga micro- biografias de algumas dos católicos com um papel de destaque no combate ao regime fascista e conquista da democracia.
Todas as micro-biografias são extraídas da tese de Doutoramento de Edgar Silva: "Vendaval de utopias. Do catolicismo social ao compromisso político em Portugal (1965-1976). Os católicos da Revolução e o PCP."

"Os católicos da Revolução e o PCP" - Micro-biografia de Avelino Pacheco Gonçalves

Edgar Silva foi padre e é investigador no Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa e dirigente do PCP.

GONÇALVES, Avelino Pacheco – nasceu a 10 de julho de 1939, sendo natural de Santo Tirso. Membro de uma família católica, foi militante da JOC no Porto, naquela que considera ter sido «uma escola da militância social». Foi Ministro do I Governo Provisório com a pasta do Trabalho, entre 16 de maio a 17 de julho de 1974, estando diretamente associado à criação de importantes medidas como, por exemplo, a criação do Salário Mínimo Nacional, o direito a férias remuneradas, à contratação coletiva e o reconhecimento do direito à associação, organização e ação sindical. Foi deputado à Assembleia Constituinte e é militante do PCP. É militante do Partido Comunista Português desde 1965, tendo exercido tarefas de organização e direção no Porto e em Viana do Castelo.

Avelino Gonçalves, muito antes da Revolução de Abril de 1974, fez parte daqueles católicos que, pela compreensão da sociedade, em virtude da natureza do compromisso transformador e através dos movimentos sociais de que faziam parte, podemos classificar como os “católicos da revolução”.
«Os católicos da revolução» agregaram os setores católicos que, impelidos pelo dever de inadiável agir transformador da história, pela edificação da justiça, se identificaram com projetos de intervenção política que suponham uma opção revolucionária.

Se bem que confinados a expressões minoritárias do catolicismo, acompanhando dinâmicas que se efetivavam noutros países, também em Portugal se criaram percursos de memória da intervenção política de católicos nos esforços para derrubar o regime de Salazar e Caetano cujos fundamentos assentaram numa ideia de revolução. E essa é a memória histórica dos «católicos da revolução».

Avelino Pacheco foi um desses “católicos da revolução”. Esteve na vanguarda das dinâmicas de crescendum dos movimentos sociais, em particular, no movimento sindical. Naquele tempo do fascismo português teve profunda expressão significa¬tiva a eleição de direções unitárias da «confiança dos trabalhadores» anteriormente a Marcelo Caetano (bem antes foram eleitas listas unitárias para as direções de vários sindicatos). Em 1966, foi eleita uma lista unitária no Sindicato dos Bancários do Porto, num processo que agregou sectores do catolicismo social e militantes do PCP; em março de 1968, foram eleitas uma lista unitária no Sindicato dos Portuários de Lisboa e uma lista no Sindicato dos Bancários de Lisboa; em julho de 1968 foi eleita uma direção oposicionista no Sindicato dos Delegados da Propaganda Médica; em novembro do mesmo ano foi votada a lista no Sindicato dos Têxteis do Porto; no início de 1969 foram eleitas listas unitárias nos Sindicatos dos Metalúrgicos do Porto e de Braga.

Foi no quadro desse movimento unitário que Avelino Gonçalves foi dirigente sindical dos bancários a partir de 1964, integrou os processos de criação da Intersindical e foi um dos fundadores da CGTP-IN. Foi dirigente do Sindicato dos Bancários do Porto em 1964/1967 e presidente da sua Direção entre 1972 e 1975.

A conquista de direções sindicais por listas oposicionistas ao regime num quadro em que o poder instituído foi impelido à aprovação das novas leis sindical e da contratação coletiva e, no caso da contratação coletiva pelo que criou de condições para se desenvolver o processo negocial, gerou um novo quadro de oportunidades políticas, suscitou condições favoráveis a uma mais ampla mobilização dos trabalhadores.

Para além do justo reconhecimento dos contributos de Avelino Gonçalves, logo depois do 25 de Abril, para importantes avanços realizados no nosso País em matéria de direitos sociais e laborais, importa destacar a sua intervenção militante no vasto movimento social que atravessou a sociedade portuguesa, numa dinâmica social que se ampliou e enraizou em Portugal, tendo desembocado, de forma impetuosa, na revolução de 1974.

22/03/2024

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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