O 1º de Maio e a cidade do Porto
Hoje vou falar sobre o 1.º de Maio, Dia do Trabalhador, mas quero fazê-lo centrado na cidade do Porto, onde resido há mais de 70 anos, e quero fazê-lo, igualmente, centrado sobretudo, na coragem da sua gente.
Artur Ribeiro é comerciante e foi Vereador da CDU na Câmara Municipal de Matosinhos.
No Porto nasceu o Infante D. Henrique, o navegador que iniciou a epopeia dos Descobrimentos. Almeida Garrett, também aqui nascido, dizia que os portuenses trocavam os “vês” pelos “bês”, mas nunca a liberdade pela servidão.
No Porto se travaram as lutas liberais, com início em 1820, e a resistência e a coragem dos portuenses levaram D. Pedro IV a doar o coração à cidade. No Porto se urdiu a revolta do 31 de Janeiro de 1891, precursora da República, e em 3 de Fevereiro de 1927, a tentativa de revolta militar da esquerda republicana.
No Porto, em 1958, nas eleições presidenciais, mais de cem mil cidadãos vieram para a rua aclamar Humberto Delgado, o General Sem Medo. Salazar tremeu! E a partir daí, a eleição do Presidente da República deixou de ser feita por eleições diretas. Na sequência destes acontecimentos, o Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, em carta a Salazar denunciou o regime, opinião que pagou com dez anos de exílio no Brasil.
Os portuenses sempre modelaram a sua cidadania pela defesa intransigente da liberdade e um combate permanente pelos seus direitos. E neste combate se insere o 1.º de Maio, Dia do Trabalhador.
No Porto e no contexto da Ditadura, grupos de cidadãos se concentravam para comemorar o 1.º de Maio, apesar da PIDE, da repressão, das prisões. E, mesmo depois dessa manhã radiosa de Abril, o povo do Porto ousou lutar pelo direito à Baixa da Cidade para aí comemorar o 1.º de Maio.
Em 1982, véspera do Dia do Trabalhador, na cidade do Porto a morte saiu à rua. Travaram-se vigorosos combates contra as forças de segurança e a polícia de choque, a mando do governo da AD chefiado por Pinto Balsemão, e do ministro da Administração Interna, Ângelo Correia. Daqui resultaram dezenas de feridos e a morte dos jovens Pedro Vieira (24 anos) e Mário Gonçalves (17 anos). Ainda hoje duas placas sinalizam o local onde estes trabalhadores foram assassinados pela polícia.
Na sequência destes sangrentos acontecimentos, a CGTP convocou uma Greve Geral para o dia 12 de Maio. E os funerais de Pedro Vieira e de Mário Gonçalves, com a presença de muitas dezenas de milhares de cidadãos, foram momentos de dor, de indignação. E de vitória.
No momento atual, com três milhões de trabalhadores no País a receberem salário inferior a mil euros e reformados com pensões que não chegam ao fim do mês, com privações, dificuldades na habitação, na educação, na saúde, o caminho é a luta pela liberdade e pelos direitos consagrados na Constituição da República. E por isso façamos do 1º de Maio mais uma grande jornada de luta.
Quando se luta, umas vezes ganha-se, outras vezes perde-se. Mas quando não se luta, perde-se sempre.
Viva o 1.° de Maio!
30/04/2024
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