top of page

Esta economia mata

Em meados do século XIX, em Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett escreveu: “E eu pergunto aos economistas-políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?” No fundo a pergunta era: quantos pobres custa um rico? E pela mesma altura Karl Marx explicava que se tratava da apropriação do produto do trabalho por parte dos detentores dos meios de produção.

Esta economia mata

Artur Ribeiro é comerciante e foi Vereador da CDU na Câmara Municipal de Matosinhos.

O capitalismo é mesmo assim. Sempre que a riqueza acrescenta num polo, a pobreza e a miséria acrescenta e acelera no outro. O saudoso Padre Mário Pais de Oliveira, que foi pároco em Macieira da Lixa, também dizia (cito de memória), “no mundo há riqueza que chega para todos. O problema é que muitos têm mais do que deveriam ter, e quando um rico tem de mais, muitos têm que ter de menos”.

Reparem caros leitores: hoje com os multibancos e as internet’s, os bancos reduziram mais de 70% aos seus recursos humanos. Os hipermercados alargam o espaço dos clientes que pagam nas máquinas, sem passar pelas operadoras das caixas. Há restaurantes e pizarias onde já só há robots para servirem os clientes (não têm pessoal), há inclusivamente já pelo menos um supermercado (e talvez haja mais), onde só se entra com a app e pagam-se as compras com a app (também não tem pessoal). Ou seja, se o objetivo desta sociedade fosse a felicidade das pessoas, com o avanço da ciência e da tecnologia, podíamos trabalhar muito menos horas por semana, havia emprego para todos, tínhamos mais tempo para a família e o lazer, e todos tinham meios para ter uma vida tranquila. Mas o objetivo do capitalismo não é a felicidade das pessoas. É por isso que ficamos muito mais pobres com a pandemia, muitos morreram e muitos enriqueceram. O mesmo com a guerra, na Ucrânia e noutras paragens. Uns ficam muito mais pobres, mas há alguns que enriquecem à custa das guerras.

É por isso, caros amigos, que no livro acerca da visão do Papa Francisco sobre o capitalismo e a justiça social, escrito por Andrea Tornielli e Giacomo Galeazzi e editado pela Bertrand, Sua Santidade diz: “esta economia mata”. E tem razão. Temos que nos empenhar em construir um mundo melhor. O capitalismo não serve as pessoas. E é por essa razão que temos que continuar a combatê-lo.

19/06/2023

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

bottom of page