Aliar a luta ao voto
Estamos a poucos dias das eleições. Um bom momento para recordar palavras do saudoso Papa Francisco: “Não nos deixemos seduzir pelos cantos de sereia do populismo que explora as necessidades do povo, propondo soluções muito fáceis e precipitadas.

Artur Ribeiro é comerciante e foi Vereador da CDU na Câmara Municipal de Matosinhos.
Não sigamos os falsos messias que, em nome do lucro, apregoam receitas úteis apenas para aumentar a riqueza de poucos, condenando os pobres à marginalização.”
O voto é uma arma do povo. Uma arma do povo que pode ser usada contra o povo. Por isso, respeitando a vontade soberana dos eleitores, há que chamar a atenção para a necessidade de cada um refletir serenamente sobre a sua escolha, ponderar em quem vai votar. Os Partidos não são todos iguais e, em consequência, os eleitos também não são todos iguais. Não defendem as mesmas causas.
Quando votam nestas eleições, os eleitores esperam eleger quem os defenda, quem os ajude a resolver os problemas. Na habitação, na mobilidade, nos espaços públicos, nas escolas, nos passeios e arruamentos, na iluminação urbana, enfim, nas várias valências autárquicas. E, deixem-me dizer-lhes, nestas eleições não se elegem só os presidentes das autarquias. Quantas vezes (e eu falo por experiência: exerci funções autárquicas durante mais de quatro décadas), um vereador ou um deputado municipal de uma força política menos votada fazem propostas e estão na base de decisões fundamentais na melhoria da vida colectiva.
Não há bom governo sem boa oposição! Daí a importância em eleger também membros de partidos minoritários, para que nos executivos haja uma saudável vida democrática e sejam bem defendidos os interesses das populações. É do interesse dos munícipes escolher autarcas que acompanhem a vida das instituições, visitem as coletividades, as cooperativas, os bairros, os centros de saúde, as escolas. Autarcas que conheçam a sua cidade, a sua vila, tenham proximidade com os munícipes, para melhor saberem interpretar o sentir das pessoas e das instituições. Que tenham disponibilidade para receber e ouvir quem precisa de ser ouvido, de ser atendido nos seus problemas, autarcas que tenham uma presença próxima e permanente junto dos eleitores.
Vivemos num país de baixos salários. Em Portugal, cerca de 60% dos trabalhadores têm salários inferiores a mil euros/mês. Mais de metade dos pensionistas têm reformas inferiores a seiscentos euros/mês. Neste contexto de pobreza, o governo acaba de anunciar apoios e isenções fiscais para quem construir habitação para rendas que podem atingir 2300 euros/mês. Chamando o governo, a estas rendas, rendas moderadas. Um escândalo!
Imprescindíveis são aqueles que lutam toda a vida, dizia Bertolt Brecht. Em Portugal há quem lute desde há décadas, quem não desista, quem dedique a vida em prol da comunidade. Com trabalho, honestidade e competência. Qualquer que seja o resultado do próximo dia 12, estes persistentes lutadores não baixarão os braços. Mas o voto, o contributo esclarecido dos cidadãos, é também ele decisivo na construção de uma sociedade melhor.
Sociedade mais justa e fraterna que um dia, estou seguro, haveremos de conquistar.
6/10/2025
A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.