top of page

Jornada Mundial da Juventude à margem das crises?

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) acontece em Lisboa num quadro de profundas crises: da crise estrutural do capitalismo; da aguda crise migratória, com massiva expressão também na Europa; de crise do “ethos” da sociedade, onde emergem novas modalidades de domínio, opressão ou violência entre os povos; de crise da cultura da paz, quando os atuais senhorios procuram ditar a lógica guerreira e da inevitabilidade da matança, como se não houvesse alternativa (...)

Jornada Mundial da Juventude à margem das crises?

Edgar Silva foi padre e é investigador no Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa e dirigente do PCP.

(...); de crise ética nas sociedades, de relativismo dos valores éticos e de vulnerabilidade moral, que afeta superiormente a credibilidade da Igreja Católica; de crise das democracias e numa intensa crise da centralidade do interesse público e do poder transformador das políticas públicas; de crise climática, num novo processo de crise da justiça social e ambiental, em dias de ansiedade na busca de soluções para o planeta; mas também quando se discute a mercantilização da vida e a defesa dos bens comuns; quando é tão ardilosa a comunicabilidade, o acolhimento do outro, e é extremamente complexa a reflexão sobre como os códigos simbólicos podem nos aproximar do outro, do diferente de mim, de nós, da vivência e de uma aprendizagem da alteridade; no quadro de uma funda crise da esperança, em face do absurdo de múltiplas situações da história, no meio de tantos medos, com a brutal cultura do medo que se propagandeia, entre tanta fragilidade, miséria e desolação, que espaço poderá haver, sobretudo entre a juventude, para referenciais de confiança dirigida ao futuro?

Esta é a primeira JMJ vivida depois da pandemia do COVID-19, num tempo de desconfianças e de cisão, em que mais dificilmente brota a possibilidade do mútuo entendimento, num contexto em que a guerra se prolonga na Europa, no conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Depois de um tempo de incertezas e de exacerbação de uma cultura de medos exponencialmente agudizados pela pandemia, como poderá ser dita a esperança? Que espaço haverá para que possa ser afirmada a esperança?

Num quadro de agravamento da escalada da guerra, no meio dos perigos extremos de uma nova guerra mundial ou de elevada ameaça de recurso a armas de grande poder de extermínio, ante as incertezas quanto ao futuro, será possível uma rutura que dê lugar à reconciliação e à paz?

Quando vão medrando processos de afirmação dos projetos populistas e com o agigantar de partidos de extrema-direita em diversos países, de que modo as razões da esperança poderão contribuir para uma nova morfologia do mundo?

Em face do crescimento da pobreza e das desigualdades, com o alastrar de novas formas de precariedade no trabalho, ante os profundos bloqueios no acesso a direitos fundamentais, como o da habitação, onde se fortalecerá uma radical confiança?

De que forma estarão presentes nesta Jornada estas, como outras, questões de fundo que nos inquietam e que condicionam a vida de tantas camadas da juventude? De que forma estarão ali presentes os jovens das ultraperiferias sociais? Especialmente aqueles que são forçados a migrar. Também os que sofrem as consequências da delinquência, das toxicodependências, da falta de recursos, das variadas e brutais formas de violência? Haverá lugar na Jornada para a numerosa multidão de jovens vítimas da exploração? Ou esta JMJ passará ao lado de tão profundas crises?

4/08/2023

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

bottom of page