A Jornada Mundial da Juventude e os valores universais
Portugal, no próximo mês de Agosto, receberá milhares de peregrinos jovens e de todas as idades, mulheres e homens de todo o Mundo, e a todos acolherá com um abraço fraterno e saudações de boas-vindas.
Maria José Maurício é professora aposentada e formadora no domínio da Educação para a Cidadania.
Durante seis dias, poderemos ver a cidade de Lisboa e outras regiões como lugares de encontro de pessoas de todos os países e nações, que se unem para celebrar o evento organizado pela Igreja Católica sob os auspícios de Sua Santidade o Papa Francisco.
Nesta fase que precede este acontecimento marcante, não faltam informações sobre a sua importância e actualidade; o decorrer das obras de infraestruturas para acomodar os visitantes; os proveitos financeiros que advirão das actividades económicas; e a mais-valia adquirida pela renovação urbana de sítios até agora sem actividade social e sem condições para espaço de lazer.
Considerando que todos os ângulos de abordagem desta extraordinária iniciativa deverão ser (no meu modesto entendimento) contributos para a reflexão, em torno dos objectivos da Jornada Mundial da Juventude, realço o seu significado universal; a convivência fraternal entre os participantes e todas as entidades envolventes; a cidadania prática que move as pessoas, quer no plano do trabalho voluntário, quer no esforço suplementar que exige dos profissionais ligados à manutenção dos serviços de apoio a todos os níveis, das forças de segurança, das instituições, e de cada um de nós.
Sobre significado universal da Jornada Mundial da Juventude, recordemos que este evento acontece num contexto mundial onde a guerra acontece na Europa e muito países do mundo, dos quais estarão entre nós muitas cidadãs e cidadãos, clamando por paz e exigindo o calar as armas. É, portanto, uma reflexão sobre a paz e sobre os meios para alcançá-la que também se impõe fazer neste evento.
Não podemos esquecer que, sendo a Jornada dedicada à juventude, é um dever ponderar no mundo que temos no presente, e o que é preciso transformar para o tornar mais justo e melhor. Neste sentido, importa conhecer as aspirações dos jovens sobre o seu futuro, as condições de vida que os esperam e como combater as dificuldades sociais, nomeadamente no acesso ao ensino e à educação, o desemprego, a dificuldade de encontrar habitação, em suma: saber com querem os jovens de hoje realizar os seus sonhos e como querem concretizar o direito a uma vida digna, segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no seu Artigo 1.º: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”
O segundo ponto que eu gostaria de mencionar, refere-se à convivência fraternal que é visível ainda nesta fase de implementação da Jornada, para acolher todas as pessoas em igualdade e sem nenhum tipo de discriminação. Sim, não existe fraternidade sem igualdade. Pensar no outro, acolher o próximo, abraçar os que estão presentes é um sentimento e um gesto fraternal, que só pode ser realizado em liberdade, ou seja, desinteressadamente.
A fraternidade não é uma palavra vã. Tem forma de se expressar com amizade e afecto. Tem conteúdo de dádiva sem retorno, com a consciência do bem que o próprio pratica. Também por esta via podemos chegar aquelas pessoas que, parecendo distantes, apenas esperam de nós o gesto afectuoso e que nos coloquemos ao seu lado, caminhando juntos, e vendo em cada ser humano uma irmã e um irmão.
Por último, refiro o trabalho voluntário de milhares de jovens e de pessoas de todas as idades que estão envolvidas na organização da Jornada, totalmente dedicados às tarefas, com alegria e entusiasmo para que não falte nada aos milhares e milhares de visitantes que são esperados.
Evoco o intenso trabalho das organizações católicas e laicas, das paróquias, das autarquias, das escolas, das colectividades e todas as demais instituições que à data estão a fazer um trabalho meritório, que dever ser reconhecido por todos os portugueses.
A dimensão do evento e o seu significado real e simbólico, o envolvimento da Santa Sé e do Papa Francisco e de Portugal inteiro com outros Estados do Mundo, comporta uma profunda responsabilidade colectiva e individual que não pode deixar ninguém indiferente. Assim, como mostram os dados tornados públicos, estando a decorrer a todos os níveis institucionais as responsabilidades inerentes às suas competências, gostaria de focar o papel dos intervenientes neste processo como cidadãs e cidadãos.
A cidadania, nas suas múltiplas vertentes — cívica, social, cultural —, exige uma prática de saber-saber, saber-ser e saber-estar. Ou seja, não se confina somente à condição jurídica, às atitudes e comportamentos individuais, mas também a uma prática real, isto é, a uma ética de coerência entre o que se pensa, o que se diz, e o que se faz. Neste sentido, a cidadania adquire uma dimensão prática continuada, que vai para além do momento exacto em que é exercida.
No caso concreto da Jornada Mundial da Juventude, a participação neste evento é também um acontecimento social, visando objectivos que estão para além da data festiva. Por esta razão, importa que a juventude participe nas conclusões do referido evento e nas soluções que venham a ser preconizadas para a resolução dos problemas identificados.
Sem a participação directa dos intervenientes e o agir consciente da juventude presente, levando à prática o trabalho árduo que certamente será exigido, tudo será remetido ao esquecimento, tornado o evento um lugar simbólico de fé, e de boas vontades que, sendo isso, não pode frustrar a mensagem fundamental que encerra todo o significado real a Jornada Mundial da Juventude, e que representa o gesto de erguer e partir em prol da missão e da causa que se abraça e que reclama agir, como é referido no lema da Jornada: “Maria levantou-se e partiu apressadamente”.
Por último, quero deixar uma palavra de reconhecimento a todas as pessoas que estão envolvidas na organização e que prepararam o excelente programa, onde não faltam as iniciativas e eventos culturais de lazer, de tradição, e de história, que a cidade de Lisboa — cidade da alegria —, oferece mas também nas outras regiões do País onde as actividades da Jornada vão decorrer.
Contribuir para o êxito da Jornada Mundial da Juventude 2023 é concorrer para a paz, para o desenvolvimento humano, para o progresso dos povos e honrar Portugal.
19/07/2023
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