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Refugiados: O rosto humano da coragem, da exclusão e da esperança

No dia 20 de junho assinala-se, em todo o mundo, o Dia Mundial dos Refugiados. Instituído pela ONU em 2000, este dia procura dar visibilidade à realidade de milhões de pessoas que foram forçadas a fugir dos seus países devido à guerra, perseguição, violência ou catástrofes.

Refugiados: O rosto humano da coragem, da exclusão e da esperança

Alexandre Nuno Teixeira é Gestor de Programas no Setor Social (Migrações) e Dirigente Associativo Voluntário (Movimento Associativo Popular e IPSS).

Em 2025, mais de 120 milhões de pessoas estão deslocadas à força — o número mais alto alguma vez registado. Por detrás destes números há histórias reais de coragem, perda, fé e resistência.

O tema deste ano, “Solidariedade com os Refugiados”, convida-nos a refletir sobre a forma como olhamos — e agimos — perante estas vidas em movimento. Não se trata apenas de reconhecer direitos. Trata-se de garantir, na prática, que os refugiados não estão sozinhos.

Solidariedade é ação, não discurso.

Solidariedade não é um slogan. É um imperativo moral. Significa ouvir as histórias de quem foge, proteger quem procura abrigo, criar condições para que possam prosperar e garantir que nenhum ser humano é tratado como descartável.

Solidariedade também significa reconhecer a nossa responsabilidade coletiva: nos conflitos que criamos, nas fronteiras que fechamos, nas políticas que escolhemos, e no silêncio cúmplice que tantas vezes mantemos.

O perigo da indiferença e a ascensão do ódio.

Num tempo marcado pelo crescimento da extrema-direita, pela disseminação de narrativas xenófobas e pela normalização da desumanidade, os refugiados tornaram-se o alvo fácil de quem constrói poder sobre o medo. Vemos líderes eleitos a desrespeitar convenções internacionais, a criminalizar o acolhimento, a usar a migração como arma política.

Quando um país ou uma sociedade vê nos refugiados uma ameaça, é o seu próprio sentido de humanidade que está em risco.

Um mandato de fé: acolher, proteger, integrar.

As três grandes religiões monoteístas — o Cristianismo, o Judaísmo e o Islão — são unânimes no apelo à hospitalidade e à proteção dos que fogem. Não é por acaso que nas escrituras encontramos, vezes sem conta, a ordem de cuidar do estrangeiro, do órfão, do exilado..

“Era estrangeiro e acolhestes-me” (Mateus 25:35)“Não maltrates nem oprimas o estrangeiro, pois foste estrangeiro na terra do Egito” (Êxodo 22:21)“Adora a Deus […] e sê generoso com o próximo, o órfão, o pobre e o viajante” (Alcorão 4:36).

Estes ensinamentos não são abstratos. São orientações claras sobre como devemos agir enquanto sociedade decente. São lembretes de que a compaixão está no centro da nossa espiritualidade comum.
Portugal e o desafio da coerência.

Portugal tem, ao longo das últimas décadas, afirmado o seu compromisso com os direitos humanos e o acolhimento de refugiados. Mas esse compromisso não se cumpre apenas com boas intenções.
Persistem barreiras burocráticas, falhas na integração profissional, falta de respostas habitacionais e lentos processos de legalização. Em muitas situações, refugiados continuam à margem da sociedade, dependentes, invisíveis.

Se queremos ser coerentes com os valores que proclamamos, precisamos de reforçar os mecanismos de inclusão, envolver as comunidades locais, apoiar as famílias e financiar de forma sustentável as estruturas que fazem este trabalho no terreno.

Uma escolha entre humanidade e desumanização.

Neste Dia Mundial dos Refugiados, somos desafiados a escolher. A escolher entre a indiferença ou o compromisso. Entre o medo e a empatia. Entre a política do fechamento e a construção de uma comunidade verdadeiramente global e solidária.

A solidariedade não se mede em palavras ditas uma vez por ano. Mede-se todos os dias, na forma como olhamos o outro, na forma como criamos pontes em vez de muros, na coragem de afirmar que a vida de um refugiado vale tanto quanto a nossa.

Porque ninguém escolhe ser refugiado. Mas todos podemos escolher ser parte da resposta.

20/06/2025

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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