Gaza: Quando o Mundo Cala, a Dor Grita
Mais de 50 mil mortos, milhares de crianças entre as vítimas e uma tragédia humanitária que não pode ser esquecida. A esperança renasce com gestos de humanidade — e com a fé que resiste.

Alexandre Nuno Teixeira é Gestor de Programas no Setor Social (Migrações) e Dirigente Associativo Voluntário (Movimento Associativo Popular e IPSS).
Mais de 50.000 palestinianos perderam a vida desde o início do conflito em Gaza, em outubro de 2023. Entre eles, 15.600 crianças. São números que custam a acreditar, mas que retratam o que tem sido uma das mais dramáticas crises humanitárias do século XXI.
Gaza vive debaixo de bombardeamentos, sem acesso a alimentos, água potável ou cuidados médicos. Uma geração cresce entre os escombros, sem escolas, sem casas, sem pais — e, muitas vezes, sem esperança.
Quando a fé não abandona. Nomeio da destruição, uma luz ténue resistiu: o Papa Francisco. Durante o seu pontificado, manteve 563 chamadas telefónicas diárias para a única paróquia católica da Faixa de Gaza, a Sagrada Família. Não eram apenas telefonemas. Eram palavras de consolo, força espiritual, e sobretudo, um sinal de que Gaza não estava esquecida.Como último gesto, pediu que um dos seus papamóveis fosse convertido numa clínica móvel para crianças palestinianas — uma decisão que resume bem o espírito de compaixão que guiou a sua liderança.
Nova liderança, mesma urgência com a eleição de Papa Leão XIV, surge uma renovada esperança de que a Igreja Católica possa assumir uma voz ainda mais firme na defesa da paz. Na sua primeira mensagem, afirmou:“A paz verdadeira é desarmada e desarmante.”
As palavras, vindas de um novo pontífice, apontam para uma continuidade do caminho traçado por Francisco — e para a possibilidade de reforçar o papel da Igreja como mediadora moral num conflito tão marcado pela injustiça.
O que podemos (e devemos) fazer?Não é apenas papel dos líderes. É de todos nós. Entre as soluções apontadas por especialistas estão:
* Reconhecimento pleno do Estado da Palestina;
* Cessar-fogo duradouro e garantias de segurança mútua;
* Acesso imediato e permanente à ajuda humanitária;
* Apoio internacional à reconstrução de Gaza, com foco nas crianças.
Não podemos continuar a calar. Silenciar Gaza é participar, mesmo sem intenção, no ciclo de violência que a destrói. Quando deixamos de falar, de partilhar, de exigir, tornamo-nos cúmplices da indiferença que alimenta cada bomba lançada, cada escola destruída, cada criança enterrada antes de tempo.
É fácil sentir impotência perante o sofrimento de um povo cercado, mas a pior resposta não é a fragilidade — é a apatia. A apatia mata mais lentamente, mas com a mesma eficácia. Um conflito prolongado não se mantém apenas pelas armas: mantém-se também pelo silêncio confortável das sociedades que já não querem saber.Cada partilha, cada texto, cada vela acesa, cada palavra dita em voz alta — são pequenas luzes que recusam o apagão moral que se abateu sobre Gaza.
Cabe-nos dizer: Gaza existe. Gaza sofre. Gaza importa.Não é uma questão de religião, de política ou de geografia. É uma questão de humanidade. E se não somos capazes de nos comover com o choro de uma criança cercada pela guerra, o que resta da nossa humanidade?É tempo de falar. Alto e claro. Por Gaza. E por nós.
10/05/2025
A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.