Aga Khan IV e o diálogo entre religiões e culturas
O falecimento do príncipe Karim Al-Hussaini, Aga Khan IV, aos 88 anos, em Lisboa, marca o fim de uma era de liderança espiritual e filantrópica para a comunidade muçulmana ismaelita.

Alexandre Nuno Teixeira é Gestor de Programas no Setor Social (Migrações) e Dirigente Associativo Voluntário (Movimento Associativo Popular e IPSS).
Nascido em 1936, em Genebra, assumiu o papel de 49.º Imã hereditário dos ismaelitas xiitas aos 20 anos, sucedendo ao seu avô em 1957. Ao longo do seu imanato, o Aga Khan IV destacou-se pela promoção do pluralismo e do entendimento entre diferentes tradições religiosas.
Esta citação reflete essa visão, num discurso em Gatineau, Canadá, a 19 de Maio de 2004: “Uma sociedade pluralista segura requer comunidades que sejam educadas e confiantes tanto na identidade e profundidade das suas próprias tradições quanto nas dos seus vizinhos.” Esta perspectiva enfatiza a importância do respeito mútuo e do reconhecimento das diversas tradições culturais e religiosas como pilares de uma convivência harmoniosa.
Além disso, afirmou num discurso na cerimónia de inauguração dos jardins restaurados do túmulo de Humayuna, em Nova Deli, Índia, a 15 de Abril de 2003: “O pluralismo não é mais simplesmente um activo ou um pré-requisito para o progresso e desenvolvimento; é vital para a nossa existência.” Esta declaração sublinha a sua convicção de que a diversidade cultural e religiosa não apenas enriquece as sociedades, mas é essencial para a sobrevivência e prosperidade humanas.
O seu compromisso com a promoção do diálogo inter-religioso e da compreensão mútua deixa um legado importante, inspirando as futuras gerações a valorizar e celebrar a diversidade como um componente fundamental da fraternidade humana.
Aga Khan IV não se limitou a proferir palavras sobre o diálogo inter-religioso, mas implementou uma série de iniciativas concretas através da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN). Esta rede promoveu o diálogo entre diferentes confissões religiosas e colaborou com organizações internacionais em projetos de desenvolvimento social, cultural e educacional. Exemplos incluem parcerias com comunidades cristãs, hindus e budistas em regiões como a África Oriental e o Sul da Ásia, onde a cooperação inter-religiosa foi essencial para o sucesso de diversos programas.
Em comunicado, D. Rui Valério, Patriarca de Lisboa, destacou, “o compromisso pela melhoria das condições de grupos marginalizados” da Fundação Aga Khan. E acrescentou: “Este trabalho conjunto foi e é testemunho do empenho que as religiões podem ter na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e humana.”
A visão de Aga Khan IV estendeu-se também à preservação do património cultural mundial. Para ele, os monumentos e as tradições de diferentes civilizações não pertenciam apenas a um grupo, mas à humanidade como um todo. Essa abordagem traduziu-se no restauro de sítios históricos de importância global, como a Mesquita de Al-Azhar, no Cairo, e os jardins históricos de Kabul, no Afeganistão, onde o objetivo foi sempre promover o respeito pela diversidade e fomentar a inclusão.
12/02/2025
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