A pobreza não dignifica a humanidade
Nos dias de hoje, enquanto assistimos, por um lado, a um desenvolvimento cada vez maior da tecnologia que abre novas possibilidades de desenvolvimento à humanidade, deparamo-nos, por outro, com uma realidade verdadeiramente impressionante, que nunca esperaríamos e que em nada nos dignifica: a pobreza a que estão submetidos milhões de homens, mulheres, jovens e crianças.

Nuno Pacheco é pároco em Alhos Vedros e Santo André.
A época das maiores possibilidades é também aquela onde o fosso entre ricos e pobres cada vez mais se faz notar. Basta abrir a televisão para nos inteirarmos de quantas famílias são obrigadas a deixar a sua terra, arriscando a sua própria vida, para chegar a um outro lugar onde possam viver em paz e encontrar alguma dignidade. Tantos jovens que não encontram trabalho devido a certas políticas económicas que colocam o lucro acima do bem das pessoas. Crianças escravizadas em tantos países ditos do terceiro mundo que alimentam essa grande máquina do capitalismo que mata.
Quando se faz do lucro um fim em si mesmo, facilmente o sentido moral e ético são deixados de parte, dando lugar a tantas formas de injustiça, desigualdade social e marginalização. Negar a possibilidade de uma vida digna que se baseia no respeito pela dignidade da pessoa, pela justa distribuição dos lucros, pelo acesso à educação, à saúde e ao emprego, é alimentar um sistema político viciado que mais não faz senão explorar de forma brutal aqueles que não têm voz nem lugar nesta sociedade, que alimenta e promove a ideia de que a pessoa vale pelo que tem e não pelo que é.
Na Mensagem do Papa Francisco para o III Dia Mundial dos Pobres (17 de novembro de 2019), é descrito um drama social ao qual não podemos ficar indiferentes e que ilustra bem essa sociedade que escraviza e humilha a pessoa na sua dignidade: “Constrangidos durante horas infinitas sob um sol abrasador para recolher a fruta da época, são recompensados com um ordenado irrisório; não têm segurança no trabalho, nem condições humanas que lhes permitam sentir-se iguais aos outros. Para eles, não existe fundo de desemprego, liquidação nem sequer a possibilidade de adoecer”. Não é essa a realidade que enfrentam tantos homens e mulheres todos os dias?
A pobreza não dignifica a humanidade. O sistema capitalista sem ética nem moral não é a solução que o mundo procura e precisa: é a raiz do problema que enfrentam tantos homens e mulheres. Sabemos que o mundo produz mais do que o suficiente para todos. A riqueza existe e os bens necessários para que todos tenham uma vida digna também: falta a coragem de os saber repartir com justiça por todos.
11/07/2024
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