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Ainda há neste mundo lugar para a Paz?

Era quarta-feira, dia 16 de outubro, quando cheguei a casa bastante cansado. Um pequeno petisco bem português serviu de jantar: uma fatia de pão, paio e um copo de vinho. Foi suficiente naquele dia.

Ainda há neste mundo lugar para a Paz?

Nuno Pacheco é pároco em Alhos Vedros e Santo André.

Precisava imenso de parar e descansar um pedaço da correria da semana, cheia de peripécias e de problemas para resolver. Cometi o erro de ligar a televisão e ver as notícias do dia, já há algum tempo que não o conseguia fazer.Passavam imagens dramáticas da Palestina, tanques, bombas, destruição e morte! No meio de tanta dor e sofrimento passaram a imagem de uma criança que no dia anterior lhe tinha sido administrada uma vacina para logo, no dia a seguir, morrer vítima da explosão de uma bomba.

Vi as lágrimas no rosto do pai daquela criança e já não consegui ver mais nada naquele dia, desliguei a televisão e fechei os olhos.Primeiro com a guerra no leste da europa e agora com as atenções centradas nessa do médio oriente, as imagens diárias do horror da guerra e das suas consequências, parece que criaram em nós um sentimento de habituação e de indiferença ao sofrimento do outro, e a verdade é que isso assusta! E temos motivos para estar assustados, pois estamos a um erro de cálculo que nos podem levar para uma escalada que poderá ficar rapidamente fora do controle de todas as partes envolvidas.

Não tenhamos ilusão! Numa guerra ninguém vence: todos perdemos. E quando o sofrimento do outro nada significar para nós então devemos parar e prestar atenção, pois há algo de muito errado dentro de nós. Não podemos dar o que não temos! É em nós que começam todas as guerras, quando não há paz no nosso coração.

A única certeza que temos é que todas as guerras na história da humanidade, por mais demoradas que tenham sido, nalgum momento encontraram sempre um fim.

Neste momento da nossa história, com potências nucleares envolvidas em confronto direto com armamento suficiente para destruir e aniquilar as populações do mundo inteiro, esta já não é uma certeza assim tão óbvia, o que nos leva a concluir que a única saída possível para o drama da guerra não são os exércitos nem as suas armas, mas a diplomacia e o reconhecimento do Direito Internacional enquanto árbitro imparcial nas relações entre Estados Soberanos, que garanta uma ordem internacional justa e que promova uma série de valores que não podemos abdicar: liberdade, democracia, justiça e paz.

Aquela criança morta na quarta-feira passada na Palestina não saberá o que isso é, mas não podemos deixar morrer em nós o sonho da paz, nem de deixar de acreditar que ainda há lugar para ela neste mundo.

24/10/2024

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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