Alguns desafios e oportunidades para as Instituições do sector social
Foi na primeira metade do século XIX, em França, que surgiu pela primeira vez a expressão «economia social». Desde cedo, a ideia principal era a de apresentar um sistema moral alternativo de gestão e organização dos meios produtivos, nascidos do seio da comunidade, com o propósito de substituir o modelo capitalista liberal dominante, encarado como promotor de excessos, de injustiças sociais e de gerar um fosso enorme entre classes.

Nuno Pacheco é Sacerdote da Congração do Coração de Jesus.
É a própria comunidade que se organizava e encontrava respostas para as suas necessidades.
Em Portugal, este sector reúne os agentes de natureza privada cuja missão os leva a produzir bens de natureza pública. Podemos desde logo identificar, as associações, as cooperativas, as misericórdias, as mutualidades, as fundações, e todas aquelas com o estatuto de IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social) ou de ONG (Organização Não Governamental). Entre nós, segundo dados publicados pelo INE, em 2020, estavam registadas 73,851 entidades, e representam cerca de 3,2% do valor acrescentado bruto (VAB) nacional. Hoje, já ninguém coloca em causa a importância das Instituições deste sector, que sempre procurou e foi encontrando soluções para os problemas sociais que foram surgindo.
O mundo hoje enfrenta mudanças sociais a um ritmo frenético e seria impossível ao nosso País passar incólume a tais mudanças, cujos efeitos afetam vários aspetos da vida diária das Instituições, que nem sempre conseguem acompanhar de forma fácil nem os ritmos das necessidades que vão surgindo, nem suportar os custos que tais mudanças e adaptações exigem. Todavia, se este sector quiser continuar a existir e criar valor na sociedade, necessita de dar um passo em frente na modernização dos seus modelos de gestão.
Já Darwin havia compreendido que na evolução das espécies nem sempre foi a mais forte ou a mais inteligente aquela que sobreviveu, mas aquela que teve a capacidade de se adaptar. Assim acontece com o sector social! Face às constantes e cada vez maiores exigências que recaem sobre as Instituições, há que ter a coragem de profissionalizar as direções, permitindo a permanência de uma figura executiva a tempo inteiro, o que permitiria uma melhor capacidade de resposta à gestão diária das Instituições.
A formação de todos os elementos dos corpos sociais e diretivos é também uma urgência. Não apenas para os dotar de ferramentas apropriadas ao bom desempenho das suas tarefas, mas para poderem caminhar juntos tendo um horizonte comum, e permitindo alargar a sua rede de contactos com elementos de outras áreas de intervenção sociais, permitindo um trabalho em rede que pode trazer tanto a este sector.
Ninguém poderá ficar indiferente ao avanço tecnológico. É de todo o interesse que os autores que representam estas Instituições criassem um modelo de gestão que fosse comum a todas elas, desenvolvendo soluções mais apropriadas ao tratamento de dados e até mesmo à criação de uma base de dados que pudesse permitir um melhor trabalho em rede.
Por fim, uma vez que tais Instituições são uma mais-valia para os Municípios onde se encontram inseridos, já que servem as necessidades das populações da sua área geográfica, como forma de aliviar o peso dos custos em recursos humanos suportados pelas Instituições, seria de todo justo e conveniente pensar-se na partilha de recursos humanos entre os Municípios e as Instituições Sociais, mesmo que limitados no tempo.
O sector social faz muito com pouco e nem sempre de forma igual para todos. Promover estas Instituições e dotá-las dos recursos que necessitam, é garantir uma sociedade mais justa e equilibrada, onde o fosso entre os muito ricos e os muito pobres não se torne um fator de exclusão de ninguém.
4/03/2025
A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.