XVI Sínodo Extraordinário dos Bispos: ponto de chegada ou de partida? - II
O Sínodo, convocado pelo Papa Francisco, procura responder a questões, não somente do Sucessor de Pedro, mas também da Igreja na sua extensão e diversidade.
Duarte Nuno Morgado é formado em Teologia, membro de diversas associações de cariz cultural e social e atualmente Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Loures.
Contudo, por se tratar de um exercício colegial de participação, de escuta, de debate, de partilha, de abertura a diferentes interpretações, este momento distendido em fases distintas, pretende compreender o que o mundo quer dizer à Igreja. Francisco revela continuamente a importância de que a Igreja não viva isolada numa clara tentação de se centrar em si mesma. Basta recordar as suas palavras por ocasião da inauguração da Sala de Exposição da Biblioteca Apostólica Vaticana, a 5 de novembro de 2021: "A vida é a arte do encontro. As culturas adoecem quando se tornam autorreferenciais, quando perdem a curiosidade e a abertura ao outro. Quando excluem ao invés de integrar”.
Esta crítica apostólica combate a força crescente, muito ao ritmo da sociedade em geral, de um egoísmo cada vez mais exacerbado e polarizador, impedindo um franco desenvolvimento dos povos de modo harmonioso, para dar lugar às posições unilaterais que visam os próprios interesses. Na convocatória para o Sínodo, o Documento Preparatório parte da realidade evangelizadora da Igreja, recuperando o significado sinodal através do questionamento: “Uma interrogação fundamental impele-nos e orienta-nos: como se realiza hoje, a diferentes níveis (do local ao universal) aquele “caminhar juntos” que permite à Igreja anunciar o Evangelho, em conformidade com a missão que lhe foi confiada; e que passos o Espírito nos convida a dar para crescer como Igreja sinodal?”.
Nesta procura por respostas, Francisco deixa claro que se para a Igreja continuar a sua missão evangelizadora, terá de compreender o caminho em si, definir de que modo poderá caminhar, e com quem. As respostas conservadoras mais combativas vão procurando alimentar a ideia de que o Sínodo vai fracassando na sua concretização, e na sua objetividade. Percebemos o objetivo desta narrativa que pretende desvalorizar os ganhos do II Concílio do Vaticano para a Igreja Católica no século XX.
O entendimento tradicionalista, desprovido de uma leitura social contínua, é antes de rutura com uma participação coletiva na Igreja, vista como uma contaminação que rompe com a tradição católica, desconhecendo a admirável história da liturgia e da ação social católica. Francisco conhece a história da Igreja, viveu-a na pele na sua geografia de origem, e sabe que na fé ninguém caminho sozinho. Deus faz-Se presente nesse outro que surge nas sendas que percorremos, e se a Igreja é lugar de encontro com Deus, ela deve ser espaço de relação, de respeito, para compreender que não estamos sós. E como em todos os tempos, a reforma dos hábitos, a revisão a determinadas premissas canónicas, e mesmo na forma do anúncio evangélico, há sempre resistência. Vejamos se o Sínodo transmitirá o verdadeiro sentir de tantos que sem este canal de escuta, não se fazem ouvir a propósito do seu caminho em conjunto.