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XVI Sínodo Extraordinário dos Bispos: ponto de chegada ou de partida? - I

A história da Igreja Católica conta com uma larga criatividade apostólica que lhe tem permitido regenerar-se ao longo do tempo. Desde o princípio que uma das formas de se atualizar passou por realizar reuniões que nem sempre tiveram o mesmo desenho, o mesmo formato. Falo dos concílios/sínodos (concilium, em latim, synodos, em grego), uma expressão comunitária que privilegia a discussão sobre determinados temas.

XVI Sínodo Extraordinário dos Bispos: ponto de chegada ou de partida? - I

Duarte Nuno Morgado é formado em Teologia, membro de diversas associações de cariz cultural e social e atualmente Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Loures.

Os concílios progressivamente tornaram-se assembleias para discussão e decisão no âmbito doutrinal ou dogmático. Tenhamos presente o primeiro de todos em Jerusalém, referido nos Atos dos Apóstolos, e o último, realizado já na segunda metade do século XX - o II Concílio do Vaticano. Este, com mais de 2000 Bispos de todo o mundo e com múltiplos especialistas de muitas e diversas áreas, foi o mais expressivo e intenso concílio da história eclesial.

Os sínodos, por sua vez, são mais direcionados para a dimensão pastoral, de organização da vida eclesial, de algum modo mais participados e alargados escutando o pensamento de muitos participantes da vida da Igreja e de fora dela. Porque é essencial compreender o posicionamento próprio de quem pensa diferente, mas com algo em comum ao longo dos tempos - dar uma resposta no momento certo às novas questões, aos desafios emergentes e a problemáticas que anteriormente não eram determinantes, mas que a dado momento se impõem.

Quando o Papa Francisco convocou o XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos "Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão", disse-o no nome que lhe deu. Trata-se de uma linha de pensamento e de um desejo do Papa em acolher todos e a partir da realidade pensar o modo de agir da Igreja.
Este tempo sinodal deve ser de reflexão, de análise ao interior da própria Igreja, da sua reforma, com especial incidência na Cúria Romana.

Das diversas intervenções, tidas por polémicas, deste Papa, o Sínodo tem sido sentido pela ala mais conservadora como uma provocação acutilante e de afirmação de um caminho de divisão. O tema de um cisma submerso não é de hoje, mas se a dado momento com Bento XVI se sentiu que o cisma estava alicerçado entre a Igreja com a sua doutrina imutável e o mundo exterior dinâmico e mais realista, hoje, com Francisco, surgem ameaças cada vez mais gritantes, públicas, de um cisma dentro da Igreja, entre progressistas e conversadores. E não podemos mentir quanto a isto, porque é assim que se vive hoje em muitos lugares de presença militante católica, entre quem segue as palavras do Papa, e quem as repudia e censura. Mas não pode haver dois pesos e duas medidas. No II Concílio do Vaticano foi reafirmado que: “O Romano Pontífice, como sucessor de Pedro, é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade quer dos Bispos quer da multidão dos fiéis” (Lumen Gentium, 23).

A XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos veio mostrar como é difícil o caminho da unidade dentro da diversidade. Crescem as recusas, e tentativas de silenciamento, mesmo em paróquias portuguesas, quando pensamos que situações destas só se sucedem noutros países. Que devemos fazer? Simples, continuar o caminho, lendo os resultados que vão saindo e partilhando o máximo possível a ousadia de pensar com liberdade a missão e os caminhos para a alcançar. Um instrumento acessível a todos é o recente site www.redesinodal.pt, onde podemos encontrar a informação mais atualizada e participar ativamente convidando a outros a fazerem parte desta larga reflexão com vista a uma maior autenticidade do ser cristão aqui e agora.

9/02/2024

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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