Salve, rei dos judeus!
Esta é uma das expressões dirigidas a Jesus no contexto da sua humilhação pública a caminho do Gólgota - o lugar da caveira.

Duarte Nuno Morgado é formado em Teologia, membro de diversas associações de cariz cultural e social e atualmente Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Loures.
Em toda a dimensão dramática da paixão e morte de Jesus, as palavras revelam-se profundamente duras e acutilantes, desferindo golpes sucessivos na imagem que os discípulos haviam consolidado sobre o seu Mestre. Jesus, o Filho de Deus, o Messias, que muitos haviam querido que fosse o novo rei de Israel, entretanto sujeito à crucifixão, não sem antes percorrer as ruas de Jerusalém sob provocações e uma tortura típica da sobranceria romana, levando a sua própria cruz consigo.
Quando Pilatos questiona Jesus sobre o seu reino, o soberano divino responde-lhe confirmando que o seu reino não era deste mundo. O reino dos céus nunca poderia ser - nem é, ao jeito dos homens. A arrogância, a avareza, a prepotência, a morte, o incentivo ao ódio, e tudo quanto de pior a humanidade tem em excesso, o Céu terá precisamente o seu oposto, mas excessivamente mais, infinitamente.
Contudo, quase dois mil anos depois deste momento trágico e redentor, assistimos naquelas terras a um paradoxo abismal. Um pretenso novo rei dirige os destinos de Israel, do povo que se considera eleito, destinado a cumprir os desígnios dados por Deus a Abraão. Mas como bons judeus, não aceitam trilhar a senda inaugurada por Jesus. E em nada isso se prende com a fé. Antes com a coerência. Pode um judeu consciente da sua herança religiosa, e de tantos episódios de perseguição, tortura e morte, infligidos ao seu povo, continuar a fazer o que faz à Palestina e ao Irão?
Ninguém está a favor de terroristas, de execráveis assassinos comprados no preço do sangue, que em nada valorizam a vida dos outros, presos a ciclos de poder que se perpetuam, mas sem qualquer horizonte que não a morte em si mesma. Mas se há algo que Jesus recusou, foi ser rei dos judeus ao jeito deste autocratismo personalista e egoísta. Contudo, o atual primeiro-ministro de Israel actua como se fosse um salvador para o seu povo, destruindo, matando, e recusando a existência de outros povos. Sejam palestinianos ou iranianos. Acabar com as células terroristas é desejo comum para a maioria de nós. Conduzir gente inocente a um precipício abismal sem retorno, não é possível, nem de acordo com o mínimo de bom . Destrói a beleza da criação divina, corrompe o sentido desta vida. Ninguém deve ter poder para considerar estas mortes como danos colaterais.
A fome, a doença, o abandono, ou a tortura psicológica que assistimos todos os dias na Faixa de Gaza, mostra claramente que os senhores deste mundo não fazem ideia do que é reinar, dirigir, governar. São apenas falsos profetas da desgraça com quem o mundo teve o azar de se confrontar. E o povo iraniano também é sujeito ao mesmo caminho.
O novo rei dos judeus cairá, assim como todos esses senhores da guerra. E devemos estar prontos para mostrar aos futuros governantes que o projeto original continua de pé! O que todos os povos querem, permanece! Trata-se de um reino de paz, de justiça, de amor, de prosperidade. Esse sim, é e será sempre o nosso desígnio coletivo.