O Sínodo: do apelo à conversão à renovação da Igreja
A maioria dos que estão atentos à atualidade da vida católica, têm procurado ler na proposta sinodal do Papa Francisco um apelo à concretização das metas que lançou no início do seu pontificado em 2013.
Duarte Nuno Morgado é formado em Teologia, membro de diversas associações de cariz cultural e social e atualmente Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Loures.
Entre as diferentes perspetivas de futuro que apresentou na sua Exortação Apostólica "A Alegria do Evangelho" (Evangelii Gaudium), a conversão pastoral foi uma das tónicas mais fortes, assertivas e revigorantes do texto papal.
Referindo-se aos múltiplos desafios que a Igreja Católica enfrenta em continuar a sua missão evangelizadora, Francisco salientava então que só será possível a renovação da forma missionária da Igreja, se a mesma se reformar a partir de dentro. Neste nível de transformação situava a Igreja desde as suas estruturas organizativas (a Cúria Romana e demais entidades e instituições daqui decorrentes) até à realidade local das dioceses, das paróquias, dos movimentos, das ordens religiosas e congregações, passando, naturalmente, pela vida concreta de cada um. Trata-se aqui da essência do ser crente, que não pode apregoar uma fé que não vive, que não pode ser hipócrita.
Recordemos as suas palavras: "Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo actual que à auto-preservação. A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de «saída» e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade" (n.º 27).
Por tudo isto, é esperado que haja uma renovação concreta, uma mudança feita de futuro que rompa com as leituras que tendem a ver no serviço, na missão, na celebração e em todas as imensas atividades eclesiais, um apego pessoal aos vícios que acabam com a própria verdade evangélica e que em nada traduzem os gestos e as palavras de Jesus. Deste modo, saliento um dos aspetos mais singulares que nos traz o documento "Sínodo 2021-2024: Relatório da Consulta Sinodal da CEP – Segunda fase", apresentado pela Conferência Episcopal Portuguesa no passado dia 2 de maio, e que se refere ao papel dos ministérios na Igreja. Este âmbito do serviço é o mais abrangente de toda a ação da Igreja, porque abarca dentro de si todos os membros ativos, desde o serviço social e caritativo à orientação e governo da Igreja na sua ampla significação.
A atualização no modo de apresentar os conteúdos da fé dependem, fundamentalmente, do modo como os diferentes agentes eclesiais se apresentarem. A grande dificuldade? Viver na vida aquilo que se prega. O desafio reside neste momento em conseguir demonstrar a todos, aquilo que é para todos, mas que nem todos pretendem aceitar. Passar da imagem triunfalista da Igreja, magna e excelsa, porque intangível, para sua dimensão material, feita de carne e de espírito, será o desafio maior.
O Sínodo será mais uma centelha de esperança, mas que todos os dias corre o perigo de se deixar apagar, caso não renovemos a sua chama. Não estamos sós, porque Deus Se faz um entre nós, mas podemos estar fragilizados se não estivermos atentos.