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A minha mensagem de Natal

Gostaria tanto de conservar em mim a inocência que crê no que vê, mas não é assim. Para mim o Natal nunca foi somente uma experiência imersiva em grandes banquetes, prendas, e cenários digno de qualquer filme dedicado ao tema.

A minha mensagem de Natal

Duarte Nuno Morgado é formado em Teologia, membro de diversas associações de cariz cultural e social e atualmente Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Loures.

Guardo sensações e memórias de presenças, de alegrias e sim, com muitas dessas coisas como a comida, as prendas e a referência ao Menino Jesus, mas a realidade impõe-se sempre e em mim desceu desde cedo. Talvez por isso nunca me habituei a pensar nesta época do ano como um dado adquirido. Com o tempo aprendi a celebrá-lo, a preparará-lo, mas sem as cenas que reconhecemos nos clássicos da televisão.

E quanto mais o tempo tem passado em mim, mais percebo que o mundo não se sabe preparar para esta quadra, porque em boa parte dele não sabe o que se celebra. Sim, para os cristãos é do nascimento de Jesus que se fala, mas que tem isso que ver com a dura realidade da vida de tantos? Sim, é tempo de paz, mas de que paz, e quem a pode viver? Sim, de vida, mas diante da tortura e da morte, que vida se pode celebrar? Sim, o Natal é cheio de referências ocidentais a músicas corais, a gastronomias doces e salgadas, e em abundância, a atos de amor e de bondade, a iluminações alegres e a decorações de conforto. Mas quem o pode ter, quem pode vivenciar tudo isto? Bem sei que para muitos assim é e pode ser, mas e o sofrimento que existe no abandono, na solidão, na desagregação familiar, nos ódios incentivados em locais de trabalho, entre entidades, nas instâncias que deveriam representar a justiça, a verdade e a política pelo bem comum? Haverá lugar a falar da mensagem de Jesus quando a pobreza e o desprezo de tantos impera no coração de muitos?

Talvez seja essa a realidade que a natividade do Deus-Menino nos venha trazer em cada ano, em cada Natal celebrado. O triunfo do Amor sobre tudo o resto, da Vida sobre qualquer movimento de morte. Celebrar o Natal não pode caber no espaço minúsculo que a indústria natalícia nos oferece, porque este Amor é maior, e reforça o papel do perdão, do encontro, da paz. O Natal foi quando Deus quis, mas hoje acontece quando no coração de cada pessoa se acende uma centelha de esperança, em Deus e na humanidade, a começar em si mesmo.

Eu hoje desejo-te um santo e feliz Natal, ou antes, desejo-te que sejas capaz de abandonar o cinismo e a hipocrisia e te faças presente, te faças bondade, te faças aquilo para que foste criado e que celebras ano após ano, como reflexo do próprio Menino Jesus.

23/12/2024

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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