Votar por Abril, votar pelo bem comum
Os últimos dias têm sido de alegria e esperança para os católicos, com a eleição do novo Papa Leão XIV. O mundo aguarda ansiosamente que o recém-eleito Papa seja um continuador da coragem e espírito progressista do Papa Francisco.

Miguel Friezas é licenciado em Sociologia e activista sindical.
Francisco teve a coragem de enfrentar o sistema capitalista e dizer alto e a bom som que “esta economia mata”, foi porta estandarte do humanismo e da solidariedade, foi um firme e empenhado activista e organizador da luta pela Paz e encaminhou a acção dos católicos para a defesa dos pobres e desprotegidos.
Francisco não foi neutro, sabia que no mundo terreno os crentes têm de unir-se para defender o bem comum. As suas palavras e ensinamentos têm repercussão em todos os gestos do dia a dia e ainda mais quando um povo, através do voto, tem oportunidade de escolher o seu destino.
No nosso País, nas eleições legislativas do dia 18 de Maio, a questão que se coloca ao povo português é se concorda com uma política que dá suporte à economia de exploração, desigualdade e submissão .
Muito Longe do processo de transformações revolucionárias iniciado há 50 anos, temos assistido à descaracterização e desmantelamento do mundo de paz e igualdade entre países e povos, do caminho de justiça social e da melhoria das condições de vida que o 25 de Abril trouxe aos trabalhadores, às crianças, aos reformados e às mulheres portuguesas.
É inegável que neste último ano o Serviço Nacional de Saúde se viu confrontado com uma ainda mais grave e profunda falta de meios que põe em causa de forma agravada e imprevisível o direito à saúde
É inegável que os salários estão cada vez mais curtos para as despesas e que a habitação é um problema crescente com consequências dramáticas para os jovens, as famílias, os pequenos empresários e as colectividades.
No plano da organização do trabalho multiplicaram-se as formas de trabalho precário e aumentou muito a exploração sobre dos trabalhadores, 3 milhões dos quais recebem menos de 1000€ de salário mensal, em contra-ciclo com os 19 grandes grupos económicos que atingem os 32 milhões de lucros por dia, (mais outros bancos e multinacionais que acumulam milhões em benefícios fiscais), e que se servem da lei e dos seus subterfúgios para acumular estes imensos milhões extorquidos à pobreza laboral.
Uma política que privilegia o investimento na guerra em detrimento da Paz, que se prepara para gastar 4000 milhões em armamento (dinheiro que faltará à qualidade de vida e ao desenvolvimento). Uma política que observa impávida e serena a barbárie na Palestina.
Uma política que preferiu suspender as comemorações do 25 de Abril e transformá-las em algo corriqueiro e parte da sua campanha eleitoral . Uma política que já anunciou a revisão da lei da greve com as consequências que isso terá na capacidade reivindicativa dos trabalhadores e dessa forma contribuindo para o “cheiro a anos 30” que vai pairando sobre nós.
O ataque vil, o oportunismo, a mentira, o racismo e a xenofobia e a vontade de reverter as conquistas de Abril são hoje bem evidentes e vêm muitas das vezes nas palavras de alguns que dizendo-se cristãos em nada contribuem para a justiça, solidariedade e fraternidade cristã.
Dito isto, confio que o povo português que tão calorosamente recebeu o Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, irá expressar através do voto a rejeição à “economia que mata” e elegerá representantes que defendam os valores de Abril, que defendam os trabalhadores, a Paz e o bem comum.
Seguiremos o exemplo de Francisco e não seremos neutros. Votaremos por Abril e o bem comum.
15/05/2025
A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.