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São José Operário, “Padroeiro” da CGTP-IN

O 1.º de Maio, Dia do Trabalhador, tem raiz em acontecimentos que fazem parte da história dos EUA, uma história omitida e ocultada, uma história de forte repressão da luta organizada dos trabalhadores.

São José Operário, “Padroeiro” da CGTP-IN

Sérgio Dias Branco é professor da Universidade de Coimbra, dirigente da CGTP-IN, e leigo da Ordem Dominicana da Igreja Católica.

No 1.º de Maio de 1886, cerca de meio milhão de trabalhadores estado-unidenses participaram numa greve geral convocada pela Federação de Sindicatos Organizados. Saíram à rua para exigir o direito à jornada de trabalho de 8 horas diárias. O protesto prolongou-se nos dias seguintes, quando foi enfrentado pela brutal violência da polícia, particularmente em Chicago.

Devemos recordar estes episódios quando lutarmos pelos nossos direitos nos locais de trabalho e na rua. Devemos recordá-los, sobretudo, quando ouvirmos alguém aproveitar este dia para contrapor a necessidade do “consenso” à constante “agitação e protesto”, apropriando-se de uma memória que contradiz o seu discurso. A redução da jornada de trabalho não foi consensualizada, foi conquistada. Em Portugal, foi o resultado das lutas desenvolvidas em 1919 e 1962, com avanços posteriores.

Hoje, são outras as lutas dos trabalhadores, mas a CGTP-IN continua a mesma história que vem de 1886. A sua fundação como Intersindical, a 1 de Outubro de 1970, é fruto da união entre sindicalistas, maioritariamente militantes do Partido Comunista Português e da Juventude/Liga Operária Católica. Esta organização não foi criada para procurar consensos numa sociedade desequilibrada e injusta, baseada na exploração humana. Mas para lutar contra esse estado de coisas, centrando-se na defesa dos interesses da classe trabalhadora e da resolução dos seus problemas, mas não a separando do combate pelos direitos e liberdades democráticas. A Intersindical, futura CGTP-IN, nasceu assim com um cunho anti-fascista de classe que a continua a sustentar. Quando o 25 de Abril triunfou, aos militares e ao povo, cedo se juntaram os trabalhadores organizados no primeiro 1.º de Maio em liberdade. Abril continuava! Maio estava na rua!

Tendo em conta a origem histórica da CGTP-IN e o envolvimento de sindicalistas católicos nas suas direcções, desde 1974 que a Igreja Católica tem dado relevo à ligação com o Movimento Sindical Unitário, impulsionando a sua força. No mais recente XV Congresso da CGTP-IN, que decorreu entre 23 e 24 de Fevereiro deste ano, o Cardeal D. Américo Aguiar, Bispo de Setúbal, marcou presença, como noutros congressos outros altos dignatários da Igreja já o tinham feito. D. Américo falou com Isabel Camarinha, a Secretária-Geral da CGTP-IN cessante, e Tiago Oliveira, o Secretário-Geral eleito, demonstrando como os católicos são chamados a participar num caminho de libertação no mundo do trabalho. Por isso, no 1.º de maio, celebra-se também a Memória de São José Operário. Através de São José, a Igreja volta o seu olhar para quem vive do seu trabalho e é alvo de injustiças e provações, aquelas pessoas cujos direitos são violados ou não são sequer reconhecidos.

A 3 de Outubro de 2017, no contexto da divulgação de um manifesto dos movimentos da Pastoral Operária, o Papa Francisco fez um de muitos apelos à defesa da dignidade e defesa dos direitos dos trabalhadores. Dizia ele que “é preciso denunciar as situações em que se violam esses direitos e ajudar no que contribua para um autêntico progresso do homem e da sociedade”. Mas vai mais longe e mais fundo. Na carta apostólica “Patris Corde” de 2020, por ocasião do 150.º aniversário da declaração de São José como padroeiro dos trabalhadores, escreveu: “São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho.” Lutemos contra a exploração, para que cada trabalhador possa usufruir do fruto do seu trabalho, na companhia de São José Operário, que pode muito bem ser olhado como o “padroeiro” da CGTP-IN.

29/04/2024

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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