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Paz e comunhão (3)

É uma evidência que o nosso mundo não é tão fraterno como podia ser e, como a mensagem assinala, tem “problemas generalizados de desequilíbrios, injustiças, pobreza e marginalizações alimentam mal-estares e conflitos, e geram violências e mesmo guerras” (1).

Paz e comunhão (3)

Sérgio Dias Branco é professor da Universidade de Coimbra, dirigente da CGTP-IN, e leigo da Ordem Dominicana da Igreja Católica.

Ninguém se salva sozinho porque, de um ponto de vista religioso, a nossa relação com Deus é pessoal, mas não é individual, muito menos individualista. Sendo pessoal, essa relação só é viva na medida em que se traduz numa forma de vida de serviço ao outro e ao bem comum. Mas, para concretizar estas obras que são fruto da bondade e da justiça, não chegam as mãos dos católicos. É preciso chamar os outros cristãos à unidade, assim como as pessoas de outras religiões. E ir até mais longe, chamando ou dirigindo-se a “todas as pessoas de boa vontade,” como fez o Papa João XXIII (2). É preciso chamar toda a humanidade a uma paz que não seja uma mera ausência de conflito, mas a tranquilidade própria que brota da amizade social e do amor fraterno e desinteressado. Como esta mensagem reitera: “Com efeito, é juntos, na fraternidade e solidariedade, que construímos a paz, garantimos a justiça, superamos os acontecimentos mais dolorosos” (3).

A pandemia é um bom exemplo do bem que se consegue fazer quando nos juntamos e trabalhamos em conjunto. Infelizmente, é também um exemplo do mal resultante do aproveitamento de interesses particulares que aumentam as desigualdades, por um lado, e concentram a riqueza, por outro lado. É preciso mudar o coração que bate nas relações sociais para evitar que isto continue a acontecer. E é para esta conversão que Jesus nos convida a cada momento da nossa vida, mas também para evangelizarmos o mundo, ou seja, anunciarmos o Evangelho que Cristo nos legou para transformar o mundo, testemunhar a dignidade e comunhão humanas, e construir a justiça e a paz.

Além da pandemia, outro acontecimento que tem marcado de forma terrível a vida das pessoas é a guerra. Não só a guerra na Ucrânia, mais próxima de nós, mas também outras guerras como as que se desenrolam na Síria e no Iémen, por exemplo. As primeiras vítimas destes conflitos armados são os povos destes países, mas o documento sublinha também os “efeitos colaterais” da Guerra na Ucrânia, bem visíveis nos países da União Europeia. O ponto fundamental, no qual o Papa Francisco tem insistido, é que a guerra “representa uma derrota não apenas para as partes directamente envolvidas mas também para a humanidade inteira” (4). A guerra é um vírus pior do que o SARS-CoV-2 porque “não provém de fora, mas do íntimo do coração humano, corrompido pelo pecado” (5).

30/01/2023

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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(1) Papa Francisco, “Mensagem para a Celebração do 56.º Dia Mundial da Paz,” 3.
(2) Ver Papa João XXIII, cart. enc. Pacem in Terris (sobre os fundamentos da paz entre os povos: verdade,
justiça, amor e liberdade), 11 Abr. 1963, https://www.vatican.va/content/john-
xxiii/pt/encyclicals/documents/hf_j-xxiii_enc_11041963_pacem.html.
(3) Francisco, “Mensagem para a Celebração do 56.º Dia Mundial da Paz,” 3.
(4) Ibid., 4.
(5) Ibid.

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