top of page

O activismo católico na construção da paz (5)

Na primeira mensagem para a celebração do Dia Mundial da Paz em 1968, Paulo VI seguiu os passos de João XXIII e não se dirigiu apenas à comunidade católica, mas ampliou os destinatários e falou da paz como um anseio e direito universal de todas as pessoas e de todos os povos:

O activismo católico na construção da paz (5)

Sérgio Dias Branco é professor da Universidade de Coimbra, dirigente da CGTP-IN, e leigo da Ordem Dominicana da Igreja Católica.

Nós pensamos que esta proposta interpreta as aspirações dos povos, dos seus governantes e das entidades internacionais que intentam conservar a Paz no mundo; das instituições religiosas, tão interessadas no promover a Paz; dos movimentos culturais, políticos e sociais que fazem da Paz o seu ideal; da juventude, em quem mais vivas estão as perspectivas de caminhos novos de civilização, necessariamente orientados para um seu pacífico desenvolvimento; dos homens prudentes que vêem quanto a Paz é necessária e, ao mesmo tempo, quanto ela se acha ameaçada.

A proposta de dedicar à Paz o primeiro dia do novo ano não tem a pretensão de ser qualificada como exclusivamente nossa, religiosa ou católica. Antes, seria para desejar que ela encontrasse a adesão de todos os verdadeiros amigos da Paz, como se se tratasse de uma iniciativa sua própria; que ela se exprimisse livremente, por todos aqueles modos que mais estivessem o carácter e mais de acordo com a índole particular de quantos avaliam bem, como é bela e importante ao mesmo tempo, a consonância de todas as vozes do mundo, consonância na harmonia, feita da variedade da humanidade moderna, no exaltar este bem primário que é a Paz. (1)

No fim deste périplo mais geral pela importância do activismo católico pela paz, resta-me apenas puxar a brasa à minha sardinha e referir o trabalho dos Dominicanos pela Justiça e Paz, uma organização não governamental e sem fins lucrativos com assento na ONU. Termino dando a conhecer o “Apelo pela Paz na Ucrânia,” assinado por 20 organizações, maioritariamente católicas, mas não só, em Abril de 2022. A tomada de posição foi dirigida ao Alto-Comissário pelos Direitos Humanos da ONU e expressou “extrema consternação com a acção militar que está a ocorrer actualmente na Ucrânia,” fazendo eco do apelo do Alto-Comissário a 24 de fevereiro, que “pedia a suspensão imediata das hostilidades que colocam em risco inúmeras vidas de civis.” (2) O apelo evocava “a voz das vítimas indefesas dos conflitos, cujos direitos humanos estão a ser violados” e relembrava “a Declaração de 2016 sobre o Direito à Paz que afirma ‘Todas as pessoas têm o direito de desfrutar da paz de modo que todos os direitos humanos sejam promovidos e protegidos e o desenvolvimento seja plenamente concretizado’.” (3) Finalmente, acrescentava:

Acreditamos que é necessário um processo de desarmamento para garantir a paz. Todos os países envolvidos na arquitectura de segurança da Europa devem comprometer-se com a redução de armas nucleares estratégicas e não estratégicas armazenadas no continente. Além disso, o Tratado de Proibição de Armas Nucleares deve ser assinado e implementado por todos os Estados.

Apelamos à ONU, à comunidade internacional e a todas as partes para que se esforcem em acabar com os combates na Ucrânia, aplicando o direito internacional e encontrando uma solução para o conflito com base no princípio da resolução pacífica das disputas.

“A guerra é um ‘flagelo’ […], uma ‘aventura sem retorno,’ que compromete o presente e coloca em risco o futuro da humanidade […]. [a] guerra [...] ‘é sempre uma derrota para a humanidade’.”

Ninguém tem o direito de fazer uma guerra, mas todos temos o dever de construir a paz. (3)

6/03/2023

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

______________

(1) Paulo VI, “Mensagem para a Celebração do I Dia Mundial da Paz,” 1 Jan. 1968, https://www.vatican.va/content/paul-vi/pt/messages/peace/documents/hf_p-vi_mes_19671208_i-world-day-for-peace.html.
(2) Dominicans for Justice and Peace et al., “Appeal for Peace in Ukraine,” 1 Abr. 2022 (trad. minha), https://un.op.org/resources/official-statements/appeal-for-peace-in-ukraine.
(3) Ibid.
(4) Ibid. A citação foi ajustada na tradução e vem do Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 497, https://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/justpeace/documents/rc_pc_justpeace_doc_20060526_compendio-dott-soc_po.html.

bottom of page