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Reflexão: José Luís Rodrigues
Uma década de Papa Francisco

José Luís Rodrigues é padre e pároco de São Roque e São José, no Funchal.

Já passa uma década de Francisco. 10 anos que passaram rápido, confirmado pelo próprio Papa Francisco. Um Papa pastor, um verdadeiro cristão, em total contradição e algumas vezes confronto com as maquinações diabólicas de algum catolicismo sempre votado aos interesses mais terrestres do que celestes.

 

A pobreza é a marca mais evidente da sua ação durante estes dez anos. Ficará para a história seguramente como o “Papa dos pobres.” O poder, com Francisco, converteu-se em serviço universal, porque se despojou dos sinais exteriores do poder e da riqueza. É simples nas palavras e inventa metáforas novas para se fazer compreendido na mensagem da salvação que anuncia.

 

Neste momento da história do mundo é o único líder mundial que fala na paz, contra a correnteza que defende a guerra e o negócio das armas. É o único que fala abertamente contra este negócio. Diz claramente: “se não fossem feitas armas por um ano, a fome no mundo acabaria.” (1)

 

É o papa da inclusão. Ninguém fica de fora ou para trás. É o pioneiro no combate ao clericalismo, para propor o caminho sinodal (Igreja de todos e para todos), que tem sido o tormento para a maioria dos clérigos por todo o mundo, que não são capazes de abdicar das mordomias clericais.

 

Também destaco as suas viagens a países remotos. A sua presença nesses países é cirúrgica, a fim de legitimar a reconciliação e paz entre os povos desavindos. Todos estão no coração de Francisco, sejam crentes ou descrentes, católicos ou não. A humanidade é uma só, todos semelhantes e todos fazem parte do coração de Deus.

A sua luta incansável e os alertas que faz sobre o assunto dos refugiados. É uma vergonha mundial o desamparo de povos que fogem da violência e da fome nos seus países de origem e que se abeiram das margens da Europa, aqui são travados com violência e desprezo. O Papa tem denunciado com veemência este sinal dos tempos.

Também parece que haverá mudança no governo da instituição Igreja Católica. Algumas com clareza, nomeadamente no que se refere ao papel da mulher, que têm sido chamadas a servirem em cargos do Vaticano que antes nunca tinham visto qualquer sinal feminino. Por aqui foi aberto um caminho que não tem volta e que vai seguir em frente.

 

Abriu há pouco uma brecha na porta do celibato opção. Pela primeira vez não se segurou no discurso do bordão anacrónico da linguagem de que Jesus foi celibatário, a maioria dos Apóstolos também e que o sacerdote solteiro terá mais tempo para dedicar-se à vida pastoral.

 

Há horizontes novos de que a hierarquia no futuro poderá ser preenchida com homens e mulheres, solteiros e casados. Nada disto será mal, mas maior riqueza evangélica e uma efetiva concretização da verdadeira inclusão da diversidade humana.

 

Por fim, uma palavra para o combate contra os abusos sexuais de menores na Igreja Católica. Não faltam pronunciamentos, medidas concretas e clareza quanto ao que deve ser feito perante as situações que aconteceram ou que venham a acontecer. Com o Papa Francisco “tolerância zero” não foi apenas uma fórmula semântica, mas comprovadamente tem sido levada à prática pela sua ação sem tibieza.

20.03.2023

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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(1) Benedetta Capelli, “O Papa: se não fossem feitas armas por um ano, a fome no mundo acabaria,” Vatican News, 5 Dez. 2022, https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2022-12/papa-francisco-seminario-rabinico-argentina-ucrania-armas-fome.html.

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