
Reflexão: Manuel Joaquim
Paz sim. Guerra não.
Imagem: capa de livro "Maria Lamas, amor, paz e liberdade.
Texto: Mafalda Brito
Ilustrações: Rui Pedro Lourenço
A Associação Feminina Portuguesa para a Paz foi fundada em 11 de Novembro de 1935, e dissolvida em 1952 pelo regime fascista. Antes da dissolução realizaram-se duas Conferências: uma de Maria Lamas “A PAZ E A VIDA” e outra de Teixeira de Pascoaes sob o título “PRO PAZ”.
É interessante verificar o que dizia Maria Lamas:- “que os fins da AFPP, correspondem à aspiração máxima dos povos, nesta hora em que a perspetiva duma nova guerra paira sobre o Mundo.
Esta ameaça torna-se cada dia mais nítida e direta. A “guerra fria”, mantida pela atmosfera, saturada de ameaças, do panorama internacional, e agravada por comunicados e telegramas, publicados diariamente, nos jornais, como um pregão bélico, pode transformar-se, de um momento para o outro, na mais sanguinolenta e desumana guerra de todos os tempos.
Tudo tende, insistentemente, a convencer-nos de que bastará um incidente internacional, para que a energia atómica, a bomba H e todas as bombas que possam fabricar-se em rigoroso segredo, façam sentir os seus efeitos, como a mais destruidora arma até hoje empregada contra a vida, a civilização e os direitos da Humanidade.
É cada vez mais ostensiva a preocupação das nações se intimidarem mutuamente, pela superioridade das suas forças de combate.
Todos os meios são utilizados para assegurar o predomínio nos pontos estratégicos do globo, ao mesmo tempo que se desenvolve a mais intensa campanha psicológica, através da radio e da Imprensa.”
Atente-se que passaram 74 anos e estas palavras aplicam-se aos tempos que estamos a viver.
Para se entender melhor os tempos atuais é bom ter presente o que se passou nos finais do século XIX e princípios do século XX. Foi a passagem do sistema capitalista à sua fase imperialista. O aparecimento dos monopólios, a concentração de capitais, da fusão do capital bancário com o capital industrial resultou a formação do capital financeiro que passou a dominar o mundo. A partilha do mundo fez-se entre os países mais poderosos: Inglaterra, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Itália, Japão, Portugal.
Essa partilha foi efetuada através da força económica, financeira e militar. A desigualdade dessa partilha levou a confrontações para novas partilhas. Daí a 1ª guerra mundial, a 2ª guerra mundial, as guerras na Ásia, na África, no Médio Oriente e em tantos lados.
O domínio do mundo para apropriação de mercados, de matérias-primas, de mão-de-obra, de ditos espaços vitais, não parou, por mais campanhas de formatação do conhecimento e do pensamento com que diariamente as pessoas eram e são confrontadas.
A 2ª guerra mundial levou a novas partilhas. Foi uma guerra com graves consequências para as nossas famílias, para todos nós.
Maria Lamas, num dos seus textos, transcreve o seguinte:
“A UNESCO informa:
«Só na Europa, foram destruídas 30 milhões de habitações»
Em consequência disso- dizemos agora - havia ainda, em 1947, só na Europa, 150 milhões de pessoas sem-abrigo. Desses milhões de seres humanos, cerca de 50 milhões eram crianças. Só numa cidade italiana de 20.000 habitantes, havia ainda, nos fins de 1947, cerca de 5000 crianças sem lar.
Devemos esclarecer que não se trata de crianças estrangeiras, refugiadas, mas sim de crianças nacionais, que, a invasão, a ocupação e todas as terríveis consequências dos bombardeamentos e demais operações militares, deixaram na maior miséria e abandono.
Depois, Maria Lamas faz referência à quantidade de escolas destruídas na Áustria, Bélgica, França, Grécia, Itália, Polónia, Checoslováquia, Jugoslávia e aos milhões de crianças famintas e desamparadas e órfãos.
Mais adiante refere-se às consequências do lançamento das duas primeiras bombas atómicas.
Diz que “Há nuvens negras no horizonte! Por detrás dessas nuvens é possível surgir, de um momento para outro, o monstro horrível da guerra”.
Acaba com as seguintes palavras:
“Se todos nós, homens e mulheres soubermos querer, a Paz será a mais bela conquista deste século, porque a batalha da Paz é a batalha da Vida”.
E agora regresso, de novo, aos tempos de hoje.
Infelizmente continuam a registar-se muitas guerras com efeitos desastrosos para as populações. Os senhores do mundo não desistiram nem desistem de tentar novas partilhas. Usam a sua força económica, financeira e militar. Os povos resistem. As lutas contra o colonialismo e o neocolonialismo nos mais diversos espaços do mundo provocaram e estão a provocar novas alterações.
Perto de nós, na Europa e no Médio Oriente, estão a acontecer duas guerras com efeitos desastrosos. A do Médio Oriente já ocorre há mais de 75 anos. E muitos de nós não tem dado por isso. A da Europa, já leva cerca de dez anos e também muitos de nós não tem dado por isso. Estamos confrontados com o declínio da política mundial. O mundo está dividido entre humanidade e fascismo. Grandes mudanças se aproximam.
Os senhores do mundo não querem abandonar os seus interesses e tentam novas partilhas. As consequências podem vir a ser piores que as da 2ª Guerra Mundial que Maria Lamas de forma tão simples descreveu.
Dizia recentemente o Papa Francisco:- “A guerra, não me canso de repetir, é sempre e somente uma derrota”
Por isso, devemos dizer
PAZ SIM, GUERRA NÃO
05.06.2024
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