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Reflexão: Olinda Marques
Manter a esperança em tempos de crise...

Olinda Marques é farmacêutica, militante da LOC-MTC e co-Presidente do MTCE.

Como profissional de saúde vivi de forma muito intensa a pandemia do COVID. Trabalhei presencialmente, quase até à exaustão muitas horas acima do habitual porque senti que era essa a minha missão, enquanto profissional de saúde, enquanto cristã e enquanto cidadã. Como militante da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos mudei radicalmente de hábitos. Durante muitos meses não foi possível reunir presencialmente com o meu grupo e fazer Revisão de Vida. Alguns dos mais importantes projetos do movimento ficaram em suspenso porque supunham o contacto pessoal e tivemos que reinventar novas formas de continuar. Por outro lado, há já alguns anos que eu, como militante, representava Portugal no Movimento de Trabalhadores Cristãos da Europa (MTCE) e cedo percebi que todas as atividades previstas para esse ano pelo movimento europeu teriam que ser modificadas ou suspensas pois não era possível, nem permitido, o habitual contacto entre militantes cristãos de diferentes países da Europa. A pandemia obrigou-nos a descobri novas formas de Encontro e curiosamente, apesar das minhas limitações de tempo acabou por ser numa Assembleia, que devida às circunstâncias especiais que vivíamos em 2020 decorreu em formato online, que fui eleita presidente do MTCE.

 

Durante estes dois anos ao serviço do MTCE reaprendemos a trabalhar em conjunto e em nos focarmos no essencial: a nossa missão ao serviço dos trabalhadores cristãos de toda a Europa. O impacto da pandemia na vida dos trabalhadores cristãos da Europa tornou-se uma das nossas maiores prioridades. A pandemia do Coronavírus nunca foi, desde o seu início, apenas um problema de saúde, mas também um problema social que agravou problemas pré-existentes, como a pobreza, o desemprego e aumentou as desigualdades entre mulheres e homens, entre ricos e pobres. Durante a pandemia, todos sabemos que o trabalho com recurso a plataformas ou o teletrabalho aumentou significativamente.

 

No entanto, vários países europeus ainda não têm um quadro legal adequado para assegurar os direitos destes trabalhadores nestas formas de trabalho. O crescente isolamento dos trabalhadores e a exclusão daqueles que não têm acesso suficiente às ferramentas de trabalho digitais ganharam importância. Por outro lado, fomos constatando que os grupos já de si vulneráveis, como os mais pobres, migrantes, ciganos, pessoas com deficiência, jovens ou seniores com menos formação foram particularmente afetados pela pandemia. A tendência para o individualismo e as pessoas com estados depressivos ou stress psicológico também aumentaram.

 

Face a estas circunstâncias, como MTCE defendemos em especial:

- um mundo em que as pessoas estejam no centro das nossas próprias ações, bem como no centro da economia;

 

- que os mais debilitados e mais vulneráveis devem ser o foco da ação social. O Estado deve assegurar que todas as pessoas possam viver com dignidade e que ninguém seja deixado de fora da solidariedade. Todo o ser humano tem valor. Em Jesus Cristo somos considerados todos como filhos de Deus. A pandemia mostrou-nos com toda a clareza que são necessárias mudanças sociais. Como MTCE estamos comprometidos com os trabalhadores, especialmente aqueles que são particularmente vulneráveis;

 

- promovemos o diálogo entre a Igreja e os trabalhadores. Chamamos a atenção da Igreja para as condições de trabalho e exigimos um posicionamento mais concreto em termos de dignidade humana;

 

- participamos do debate político, entramos em diálogo com outras organizações e com elas trabalhamos para a mudança;

 

- defendemos o direito a um Dia de Descanso semanal comum a toda a família, um dia livre de Trabalho, Dia para a família, para o contacto com a natureza, para fazer crescer o espírito comunitário e por isso fazemos parte dos que defendem o Domingo Livre;

 

- perante a crise climática é cada vez mais também um desafio Cuidar da Casa Comum, no sentido indicado pela Laudato Si’ e compreender que num mundo global todos devemos cuidar de todos.

 

Localmente, onde trabalhamos, estamos atentos às injustiças estruturais globais. Acreditamos que todos podem contribuir para a mudança social de que necessitamos. Mesmo quando as coisas são difíceis - não podemos perder a esperança. É esse o nosso maior desafio: resistir ao desânimo e sempre acreditar que é possível um mundo melhor!

09.11.2022

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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