Teólogos cristãos pela paz, alicerçada na justiça e cuidado da Terra
23 de setembro de 2024
Entre 6 a 8 de Setembro, realizou-se o 43.º Congresso de Teologia da Associação de Teólogas e Teólogos João XXIII, com a participação de especialistas internacionais comprometidos com a teologia da libertação.
O encontro teve como tema “Guerra e Paz: Há uma saída à vista?”
Na mensagem final aprovada pelos participantes no Congresso, lê-se que “existem 56 conflitos activos com 92 países envolvidos, o número mais alto desde a Segunda Guerra Mundial”e se alcançaram “números recordes de gastos militares, que ascendem a 2.913 trilhões de dólares, 190 vezes mais do que o gasto no combate à fome”. Os conflitos na Ucrânia e em Gaza são os principais impulsionadores desta situação. De acordo com o texto, a “Ucrânia vive uma situação de guerra após a invasão da Rússia, que nega a sua independência e soberania, transgredindo assim o direito internacional. Os Estados Unidos e a União Europeia rearmam a Ucrânia, causando um conflito de longa duração com muitas vítimas de ambos os lados, sem nenhuma proposta de paz.” Ao mesmo tempo, a “ Palestina vive sujeita ao sistema colonial israelita, uma das bases do qual é o sionismo religioso. Desde 7 de Outubro de 2023, quando militantes do Hamas assassinaram 1150 pessoas e sequestraram outras 240, o que constitui um crime de guerra, o exército israelita está a cometer um genocídio com 41.000 assassinatos, a maioria de crianças e mulheres, e 92.000 feridos, e um ecocídio com 75 por cento da infraestrutura destruída. Tudo isso com o apoio político e militar dos Estados Unidos e da União Europeia e diante da passividade da comunidade internacional. Israel viola impunemente o direito internacional humanitário sem ser alvo de sanções.”
“Os conflitos bélicos estão a causar destruição, mortes, fragmentação social, pobreza, fome, sofrimento, destruição da natureza, deslocamentos em massa em condições precárias, feminicídios e infanticídios. Os povos nunca ganham as guerras e sempre colocam os mortos”, lê-se na declaração.
A mensagem acrescenta que a situação é ainda pior do que parece, porque há “um crescimento alarmante de narrativas belicistas que apresentam o caminho da guerra como a opção inevitável. Há cada vez mais sectores que ridicularizam a defesa da paz, dos direitos humanos e do direito internacional. A impunidade cresce, a banalidade do mal é normalizada e as vítimas são reduzidas a números simples.” Mas os “textos bíblicos são esclarecedores no trabalho pela paz, que é inseparável da justiça, como afirma lindamente o Salmo 85: ‘A Justiça e o Amor se reuniram. Justiça e Paz se beijam. A verdade brota da terra. A Justiça aparece do céu’”.
Face a esta situação, estes teólogos reunidos em congresso consideram necessário resistir e lutar pela paz e declaram numa só voz: “Não podemos ficar em silêncio, nem ser neutros, pois nos tornaríamos cúmplices. Também não podemos cair em atitudes derrotistas e fatalistas, que nos levariam a cruzar os braços diante das guerras e injustiças. É necessário colocar o lado certo da história, que são as pessoas, os colectivos e os povos sofredores e buscar alternativas para evitar que a guerra seja eterna.” O seu ideal de paz “requer justiça social e pessoal e o cuidado da integridade da Terra, de seus direitos e de sua biocapacidade”.