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Papa Francisco em África: da denúncia do “”colonialismo económico” à defesa dos direitos das mulheres

6 de fevereiro de 2023

Milhares de pessoas encheram as ruas de Kinshasa para ver passar o Papa Francisco no Papamóvel, no início de uma viagem de seis dias à República Democrática do Congo, o país com mais católicos de África, e ao Sudão do Sul.

Papa Francisco em África: da denúncia do “”colonialismo económico” à defesa dos direitos das mulheres

Foto: Vaticano News

Francisco, de 86 anos, leva consigo uma mensagem de paz aos dois países atingidos pela violência da guerra tendo, no primeiro discurso diante das autoridades congolesas, denunciado o "colonialismo económico" dos seus recursos.

“A exploração política deu lugar ao colonialismo económico que é igualmente escravizador”, disse o Papa na receção nos jardins do Palácio da Nação. “Por isso, este país, massivamente saqueado, não beneficiou adequadamente dos seus imensos recursos”, acrescentou, num discurso em que lembrou que cada congolês é mais precioso do que um diamante ou do que qualquer coisa que possa sair do solo do país.

“Tirem as mãos da República Democrática do Congo. Tirem as mãos de África. Não é uma mina para ser explorada", afirmou, diante dos aplausos dos presentes. O Papa lembrou ainda que o mundo não se pode acostumar ao “banho de sangue” que tem marcado o país durante décadas e defendeu eleições “livres, transparentes e credíveis” — estão previstas presidenciais para 20 de dezembro.

Francisco é o primeiro Papa, desde João Paulo II em 1985, a visitar a República Democrática do Congo (então ainda Zaire), um país onde 40% dos mais de cem milhões de habitantes são católicos - é o país com mais católicos no continente africano. É a 40.ª viagem apostólica internacional de Francisco, a quinta a África, e estava inicialmente prevista para julho do ano passado, mas os problemas de saúde do Papa obrigaram a adiar os planos.

No Sudão do Sul, Francisco alertou este sábado que o futuro pacífico do país depende da forma como trata as suas mulheres, num país onde enfrentam violência sexual, casamentos infantis e a mais elevada taxa de mortalidade materna do mundo.

No seu segundo e penúltimo dia em África, Francisco pediu que as mulheres e as meninas sejam respeitadas, protegidas e homenageadas, durante um encontro na capital do Sudão do Sul, Juba, com cerca de dois milhões de pessoas que foram forçadas a fugir das suas casas por causa dos combates e das cheias.

“Por favor, protejam, respeitem, apreciem e honrem cada mulher, cada menina, jovem, mãe e avó. Caso contrário, não haverá futuro”, disse o Papa. Realçou ainda que as mulheres são a chave para o desenvolvimento pacífico do Sudão do Sul, mas precisam das oportunidades certas.

O encontro foi um dos destaques da visita de três dias de Francisco ao país mais jovem do mundo e um dos mais pobres. Acompanhado pelo arcebispo de Canterbury, Justin Welby, e pelo chefe presbiteriano da Igreja da Escócia, Francisco está a desenvolver uma peregrinação ecuménica histórica para chamar a atenção global para a situação do país e encorajar o seu processo de paz.

O objetivo da visita ecuménica é encorajar os líderes políticos do Sudão do Sul a desenvolver um acordo de paz de 2018 que ponha fim a uma guerra civil que eclodiu depois que o país predominantemente cristão conquistou a independência do Sudão, de maioria muçulmana, em 2011.

De acordo com a UNICEF, cerca de 75% das meninas no Sudão do Sul não vão à escola, porque os pais preferem mantê-las em casa e prepará-las para um casamento que trará um dote à família.

Metade das mulheres do Sudão do Sul casa antes dos 18 anos e enfrenta a maior taxa de mortalidade materna do mundo. A Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas no Sudão do Sul disse, num relatório no ano passado, que, no geral, as mulheres e as meninas vivem uma “existência infernal” no país.

“Mulheres sul-sudanesas são agredidas fisicamente enquanto são estupradas sob a mira de uma arma, normalmente mantidas por homens enquanto são abusadas por outros. Elas são instruídas a não resistir e a não relatar o que aconteceu, ou serão mortas”, é descrito no relatório.

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