“Vendaval de Utopias”: Doutoramento em história de Edgar Silva na Universidade Católica com 19 valores
19 de maio de 2023
A tese de doutoramento de Edgar Silva, “Vendaval de Utopias: do Catolicismo Social ao compromisso político em Portugal (1965-1976), os católicos da Revolução e o PCP”, foi, ainda em Abril, sujeita a apreciação na Universidade Católica Portuguesa (UCP), no quadro do Programa Interuniversitário de Doutoramento em História.
O júri que avaliou as provas foi presidido pelo vice-reitor da UCP, pe. José Pereira de Almeida, na vez da reitora, Isabel Capeloa Gil, e integrou os vogais: António Costa Pinto do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Maria de Fátima Moura Ferreira do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, José Miguel Palma Sardica da Faculdade de Ciências Humanas da UCP, Paulo de Oliveira Fontes da Faculdade de Teologia da UCP, orientador da tese, Bruno Cardoso Reis do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, e Maria Inácia Rezola da Escola Superior de Comunicação Social do Politécnico de Lisboa, responsáveis pelas arguições.
A reflexão, discussão e projecção na vida e na acção social e política desta tese é tarefa para prosseguir em posteriores abordagens do seu conteúdo e relevância para os católicos e crentes progressistas, forças e activistas da transformação social. É fundamental a sua publicação breve para o estudo e o debate de um contributo essencial para a cultura e emancipação do nosso povo, dos trabalhadores, explorados e oprimidos, crentes e não crentes.
Edgar Silva, na apresentação da tese, fez a opção de relevar as realidades, factos e momentos significativos da situação nacional na fase final da crise geral do fascismo. Valorizou a evolução da Igreja Católica, cujo Concílio Vaticano II (1962-1965), determinou o seu “aggiornamento” e o projecto de uma sociedade diferente, e salientou a acção dos “católicos na Revolução” em convergência com o PCP e a unidade antifascista, cuja luta culminou no 25 de Abril de 1974 e no processo da sua consolidação na Constituição da República de 1976.
O candidato, na sua apresentação, focou os movimentos sociais, integrando católicos progressistas, comunistas e outros democratas, que concretizaram acções colectivas relevantes de confronto com o fascismo, a sua natureza, estruturas e políticas, propondo as transformações necessárias ao País, juntando forças e abrindo caminho à Revolução antifascista e ao seu programa: no movimento da paz, contra a guerra colonial e pelo direito dos povos das colónias à independência; no movimento operário e sindical, contra a exploração, na luta por salários e direitos e pela liberdade sindical, que em 1970 fundou a Intersindical (mais tarde, CGTP-IN); e no movimento em defesa dos presos políticos, contra a repressão e em luta pela liberdade e a democracia.
O candidato, em defesa da sua tese, expôs e contextualizou uma vasta pluralidade de experiências e contributos de “católicos na Revolução”, muitos deles heróis desconhecidos. São cinquenta testemunhos e entrevistas muito importantes, em grande medida sobre factos pouco conhecidos, momentos de resistência e luta, de afirmação dos movimentos sociais e de outras batalhas contra o fascismo, de padres e leigos, de católicos-militantes do PCP, ou não, de dirigentes comunistas e outros antifascistas, do seu papel e intervenção nos movimentos populares e outras lutas e na construção da convergência e unidade para o derrube da ditadura de Salazar e Caetano.
Esta foi uma das questões que o júri valorizou, pela veracidade e contributo para esta Tese de doutoramento, chamando à atenção para a importância de, no futuro próximo, aprofundar o estudo a este respeito e alargar a janela temporal da análise, até porque ficou claro que a aproximação dos católicos progressistas à luta antifascista vem já dos anos quarenta e, também, que o período pós-25 de Abril, até 1976, e o período posterior merecem novos aprofundamentos. São “grandes desafios para outro trabalho”, reconheceu Edgar Silva.
Um conjunto de problemáticas conexas à tese foram suscitadas na discussão pelo júri e foram respondidas com objectividade pelo candidato, ou remetidas para novas análises e aprofundamentos da matéria. Os membros do júri enalteceram a “qualidade” e “profundidade” do trabalho, a sua “importância e pioneirismo” e referiram a necessidade da sua publicação e divulgação e de começar a trabalhar num “segundo livro”, que responda ao que falta estudar e concluir a este respeito.
No final, Edgar Silva agradeceu a “experiência enriquecedora”, as opiniões e contributos do júri e inscreveu na sua intervenção alguns temas para um novo trabalho, ainda sobre os “católicos na revolução” mas também sobre o “vendaval de utopias” na busca de uma “sociedade nova”.
O júri reuniu e atribuiu dezanove valores à tese de doutoramento de Edgar Silva, o que constitui um elemento de grande prestígio científico para o próprio e para a sua colaboração na Terra da Fraternidade e para todos os “católicos na Revolução”.