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Marxismo e cristianismo

A história do cristianismo primitivo tem notáveis pontos de semelhança com o movimento moderno da classe operária. Como este, o cristianismo foi, nas suas origens, um movimento de homens oprimidos: no princípio apareceu como religião dos escravos e dos libertos, dos pobres despojados de todos os seus direitos, dos povos subjugados ou dispersos por Roma. Tanto o cristianismo quanto o socialismo pregam a iminente salvação da escravidão e da miséria.

Marxismo e cristianismo

Luís Mendes é geógrafo, professor Instituto de Geografia e Ordenamento do Território e investigador do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, e dirigente associativo.

São os comunistas que pensam como os cristãos. Cristo falou de uma sociedade em que os pobres, os débeis e os excluídos é que decidem. Não os demagogos, os Barrabás, mas o povo, os pobres, tenham fé em Deus ou não, mas são eles que temos de ajudar a obter a igualdade e a liberdade” (1), afirmou o Papa, em entrevista.

Perseguimos o ideal mais nobre da emancipação e libertação da exploração do homem pelo homem, de uma sociedade nova, liberta da opressão, das desigualdades, injustiças e flagelos sociais, sociedade em que o desenvolvimento das forças produtivas, o progresso científico e tecnológico e o aprofundamento da democracia económica, social, política e cultural assegurarão aos trabalhadores e ao povo liberdade, igualdade, elevadas condições de vida, cultura, um ambiente ecologicamente equilibrado e respeito pelo ser humano.

O conhecimento da imperfeição presente gera no ser humano o desejo da perfeição futura, engendrando a utopia na realidade humana, dando origem à consciência antecipadora e fundamentando a esperança.

A sociedade de classes e a subjugação do homem pelo homem é uma realidade de milénios, assumindo expressões, formas e protagonistas diferentes em cada uma das diferentes formas de organização da sociedade.

Karl Marx não descobriu a sociedade de classes nem a opressão que a classe exploradora imponha à classe explorada, esta realidade foi vivida e experimentada por milhões e milhões de seres humanos explorados que ao longo da história da humanidade, lutaram pela sua libertação das diferentes formas de opressão e exploração impostas por uma minoria de exploradores.

O diálogo entre marxistas e cristãos prossegue, a despeito das dificuldades iniciais de encontrar-se uma metafísica, linguagem e práxis comuns. Verifica-se, porém, na prática, um desejo recíproco de paz entre os homens, o estabelecimento de um mundo sem antagonismos étnicos, sem guerras de opressão, um mundo liberto do espectro da miséria. Assim, entre estas ideologias conflituantes, muitos pontos de contacto existem.

Pode-se, sem exagerado optimismo, entrever um dia em que cristãos e marxistas estarão de mãos dadas na tarefa de transformação do mundo, onde os seres humanos poderão viver sem os antagonismos de classes, materializando os valores de uma sociedade avançada de democracia profunda e de alta densidade, em essência, o Comunismo e o Socialismo.

25/10/2023

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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(1) Lusa, “’São os comunistas que pensam como os cristãos’, diz o papa”, Expresso, 11 Nov. 2016, https://expresso.pt/internacional/2016-11-11-Sao-os-comunistas-que-pensam-como-os-cristaos-diz-o-papa .

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