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Conversas com o Jardim

O padre Agostinho Jardim Gonçalves estava em Saigão quando o governo pró-americano caiu. Eu estava em Hanói quando Francisco foi eleito Papa, na conversa sobre este tema afirmei que o número 2 da CIA, um infiltrado na resistência vietcongue, quando os serviços secretos americanos estavam à sua procura para o salvar, eles estava a comandar os tanques que estavam a libertar Saigão do domínio do imperialismo americano.

Conversas com o Jardim

Dírio Ramos é engenheiro electrotécnico e hospitalar, membro da Associação Mil por Abril (Milicianos do 25 de Abril), e católico.

Jardim visitou o Camboja, na altura chamado Kampuchea Democrático, pais de cultura milenar, foi visitar a prisão onde se torturava e matava toda a gente a mando do tirano Pol Pot. No aeroporto, só estava um católico à sua espera, que o levou para casa de um amigo, na clandestinidade, e lhe disse que nada lhe garantia que no dia seguinte estivesse vivo.

Mais tarde em Paris, Jardim encontrou-se com um torturador apoiante de Pol Pot que tinha fugido da tirania. Esse homem pediu perdão a Jardim e ao seu povo pelos crimes que tinha cometido.

Falámos muito do seu trabalho e das idas à América Latina, Nicarágua, Cuba, El Salvador, Chile, Argentina, etc.

Em Cuba, Fidel de Castro perguntou: quem de vocês é o Gonçalves? Da Nicarágua trouxe-me um livro sobre a revolução Sandinista com uma dedicatória de que não me esqueço. De El Salvador falou-me da FMLN (Faramundo Marti de Libertação Nacional) e dos mais de 60 mil mortos da guerra civil.

Da Argentina mostrou-me a sua correspondência com Adolfo Pérez Esquivel, Prémio Nobel da Paz, do Arcebispo Jorge Bergoglio, da tirania de Videla dos milhares de mortos desaparecidos e das Mães de Maio sempre presentes todos os dias na praça junto ao Palácio Casa Rosada, sede do poder político.

Do Chile trouxe-me o Livro Negro da tirania de Pinochet, do governo de Unidade Popular de Salvador Allende e conversámos sobre a tirania fascista apoiada pelos EUA. Falámos da resistência, dos torturados, dos mortos e desaparecidos tantos deles deitados ao mar… não esquecemos Neruda, do seu funeral, do músico Victor Jara e dos católicos progressistas mortos pela ditadura.

De Moçambique, em janeiro de 1982 estava Jardim com o missionário padre Luzia em trabalho da Cáritas, em nome da CCFD (Comité Católico contra a Fome e pelo Desenvolvimento). Seguimos depois para a Tanzânia onde o Presidente Nyerere fez à CIDSE (Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e a Solidariedade) um brilhante discurso sobre o papel dos cristãos no desenvolvimento. Era o tempo do socialismo africano UJAMAA numa dessas aldeias de sonho onde estavam dois padres holandeses, Miguel Vervey e José Martens. O Miguel tinha sido provincial em Portugal naqueles anos quente de 1970 e o José aqui em Moçambique foi um dos que difundiu o relatório do massacre de Inhaminga, concomitante com os de Wiriamu e Mucumbura.

Luzia, quando veio a Portugal recentemente, ainda conseguiu almoçar com Jardim.

Dei conhecimento à Luzia sobre a singeleza do funeral de Jardim e recebi deste missionário que vive em Nampula, onde fui também cinco vezes ajudar a recuperar o Hospital de Marrere. “Caro Dírio, obrigado por me teres conduzido, como esperava que alguém o fizesse, à intimidade dessa celebração Pascal do nosso querido Jardim.”

6/02/2025

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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