Por uma sociedade de Paz
A manifestação pela Paz em Lisboa, no passado sábado, foi uma demonstração de preocupação e de repúdio com os vários cenários de guerra e também a vontade de construir uma sociedade de Paz.

Joaquim Mesquita é operário fabril do sector alimentação, dirigente da CGTP-IN, e militante da Base-FUT e da LOC-MTC.
«- Do que mais se lembram do tempo da guerra?
- Não há nada para lembrar, meu senhor – diz um camponês
- Como não há?
- Todos voltamos mortos da guerra.» (MIA COUTO, A Confissão da Leoa)
A manifestação pela Paz em Lisboa, no passado sábado, foi uma demonstração de preocupação e de repúdio com os vários cenários de guerra e também a vontade de construir uma sociedade de Paz.
Milhares de pessoas desfilaram afirmando os seus valores, que reflectem sobretudo um desejo de Justiça. Querem ser ouvidas. “Paz sim, guerra não”. Querem liberdade e democracia a sério, com Paz, pão, saúde, ensino, habitação. É uma mensagem dirigida aos senhores deste mundo e aos governantes das nações, que até sabem que os cidadãos têm consciência destes direitos, inerentes ao ser humano (ontológicos) e expressos na nossa Constituição. Governantes que falham deliberada e conscientemente perante os seus compromissos e se recusam em cumprir e fazer cumprir a Lei fundamental, negando ao povo o seu maior anseio, de ter uma lei justa e um rei justo.
Sim, os governantes conhecem os anseios do povo, mas outros valores se sobrepõem, em particular os que sustentam a economia, a economia que mata, que cada vez mais mostra o seu verdadeiro rosto – a economia de guerra. De uma forma ou de outra, foi sempre esse o seu carácter, na medida em que este sistema económico só tem conseguido subsistir e impor-se quando sustentado pelo belicismo e o armamentismo, materializado em poderio militar que vem garantindo protecção ao mercantilismo e ao comércio a ele associado.
Mas o povo diz: “Paz sim, guerra não”. Por mais que o queiram convencer que é com a guerra que se faz a Paz, o povo sabe que “o grande rei não é o que conduz o seu povo na guerra, mas o que afasta a guerra para longe do seu povo… (1); As guerras são tapetes… Por debaixo deles se ocultam as imundícies dos poderosos” (2). Também na guerra – e especialmente na guerra – há quem mande e há quem obedeça, subjugando os seus cidadãos aos novos impérios.
As guerras que grassam no nosso planeta demonstram bem o desprezo que os governantes atribuem à vida humana, em conflitos na América Latina, no Extremo Oriente, ou em África e, claro, no conflito na Ucrânia que se prolongará até ao último ucraniano; e no genocídio na Palestina, onde Israel está apostado em não deixar pedra sobre pedra e em expulsar os palestinianos que sobreviverem.
“Paz sim, guerra não”. Não queremos os nossos filhos e os nossos netos a morrer na guerra. Não queremos os nossos amigos e os nossos irmãos a morrer na guerra. Com ou sem água-benta. Somos todos irmãos, filhos do mesmo Pai. “Jamais a guerra! Pensem sobretudo nas crianças”, pede o Papa Francisco. E pedem os simples e humildes da Terra.
24/01/2025
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(1) Mia Couto, “O Bebedor de Horizontes”
(2) Mia Couto, “A Espada e a Zagaia”
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