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Humanizar é necessário

Vivemos tempos de grande evolução tecnológica, mas também de forte ênfase na gestão de pessoas. Multiplicam-se os discursos sobre motivação de equipas, coaching, dinâmicas de grupo, terapia do riso. É cada vez mais comum aplicar estas abordagens em todos os contextos profissionais — das pequenas às grandes empresas multinacionais.

Humanizar é necessário

Elisa Mendonça, é assistente operacional, dirigente sindical do STFPSSRA, membro da Direção Nacional da Comissão da Igualdade dentre Mulheres e Homens - CGTP e membro do Conselho Regional da USAM - União dos Sindicatos da Madeira.

Em qualquer livraria, a prateleira dedicada ao mundo empresarial está recheada de títulos apelativos: “como ter equipas felizes”, “como aumentar a produtividade com empatia”, “como liderar com inteligência emocional”. E é justo reconhecer o mérito desses autores, que muitas vezes apresentam estudos sérios sobre comportamento humano e desempenho profissional.

O problema surge quando toda essa teoria não encontra eco na prática. Porque, no dia-a-dia real, quando as empresas vivem os seus desafios concretos, quando os clientes aparecem de surpresa, quando os negócios apertam e — sobretudo — quando a vida dos trabalhadores acontece, muitos chefes parecem esquecer-se de tudo o que leram.

Onde está, por exemplo, a teoria que ensina a lidar com uma mãe que tem um filho doente? Onde está o capítulo que orienta um gestor perante um trabalhador que precisa de acompanhar o pai idoso a uma consulta? E uma avó que precisa de faltar para ir à escola do neto? Ou uma grávida em situação de risco? Ou um trabalhador com limitações físicas?

É aqui que a liderança se revela — não nos PowerPoints, não na lei geral do trabalho ou nas cláusulas dos CCT, mas na humanidade. E é também aqui que vemos dois tipos de chefia. Há aqueles que tentam aplicar o que aprenderam, mesmo sem respostas prontas. E depois há os outros: os da “velha guarda”, que ainda vivem do “no meu tempo não havia nada disso, desenvencilhem-se!”. São os que vêm da dureza do passado e, em vez de usarem essa experiência para humanizar, perpetuam o sofrimento.

Mas não precisamos de ir aos extremos da teoria ou do ressentimento. A resposta, para quem tem fé e coração, é clara: a resposta está no amor ao próximo.

Há situações em que liderar pede simplesmente menos ego e mais empatia; menos rigidez e mais capacidade de adaptação. Liderar é saber ver para além do imediato. É reconhecer que, quando um trabalhador tem um problema sério na sua vida pessoal, é desumano — e até contraproducente — fingir que nada se passa.

Quando uma chefia se desresponsabiliza por completo perante as necessidades concretas de quem trabalha consigo, revela uma visão limitada, inflexível, e muitas vezes, profundamente injusta. E depois, essas mesmas chefias falam de “resiliência” e “capacidade de adaptação”. Como, se não são capazes de praticar aquilo que exigem?

Liderar com amor não é fraqueza. Não é abdicar da autoridade. É ter a coragem de ver cada trabalhador na sua totalidade: com mérito, com competências, com fragilidades também. É perceber que o verdadeiro sentido de equipa não está nas jantaradas ou nas fotografias para as redes sociais. Está no gesto simples e genuíno de dar a mão no momento difícil, de estar presente quando a dor chega, de cuidar — mesmo que em silêncio.

O trabalhador exige respeito. Exige consideração. E quando estas duas coisas existem, garanto-vos: a produtividade multiplica.

Com esta reflexão, quero deixar claro: não precisamos de mais teoria sobre bem-estar no trabalho. Precisamos de mais amor ao próximo, de mais corações abertos às diferenças, de mais altruísmo real e da capacidade de “calçar os sapatos do outro”.

E não pensem, senhores administradores, que isto é sinal de fraqueza. Pelo contrário: é sinal de uma liderança madura, humana e profundamente transformadora.

13/08/2025

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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