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Imigração: reafirmar a solidariedade da classe trabalhadora é o caminho

O aumento da entrada de imigrantes em Portugal na última década e da diversidade na composição da população portuguesa tem sido explorado por para espalhar o medo. É preciso, pois, esclarecer discutir frontalmente e lançar a bases para um discurso ao mesmo tempo realista e progressista.

Imigração: reafirmar a solidariedade da classe trabalhadora é o caminho

Pedro Esteves é Presidente da Juventude Operária Católica.

O aumento da entrada de imigrantes em Portugal na última década e da diversidade na composição da população portuguesa tem sido explorado por para espalhar o medo. É preciso, pois, esclarecer discutir frontalmente e lançar a bases para um discurso ao mesmo tempo realista e progressista.

A primeira é que a vontade de alguém procurar uma vida melhor noutro país para si e para a sua família é algo de profundamente humano e que só pode merecer a nossa empatia. É espantoso que, quando Portugal é um país onde serão poucos aqueles que não têm familiares espalhados pelo mundo – da Alemanha à Argentina, da França ao Canadá, da Suiça aos Estados Unidos. E isto não é um fenómeno do passado. Só em 2023, 70 000 pessoas deixaram o país – números muito semelhantes aos da década de 1970.

A segunda é que convém não esquecer que há um dever de acolhimento de pessoas que procuram uma vida melhor. Este não é apenas um dever moral de hospitalidade e de amor ao próximo que é básico para qualquer crente – seja ele cristão, muçulmano ou de outra confissão. É uma consequência política da nossa economia. A miséria que obriga muitos à migração é muitas vezes um resultado de uma experiência colonial e de um sistema economico vigente que condena vastas partes do globo a uma posição subalterna, impossibilitando na prática o seu desenvolvimento económico dos seus paises de origem. Ver a hipocrisia com com que se justificam as brutais políticas anti-imigração da Europa ou os EUA, beneficiários máximos deste sistema, é simplesmente revoltante.

O terceiro é denunciar o absurdo de imigração é uma ameaça à cultura portuguesa. Se não fosse o seu fundo xenófobo e racista, esta argumento seria quase cómico. Por um lado, aquilo a que chamamos “cultura” - a língua, a ciência, as artes, a gastronomia, o desporto, o vestuário, a forma como organizamos coletivos –– é composto por elementos que foram trazidos para Portugal (vários, infelizmente, à força) por pessoas de todo o mundo. Por outro, não é estático mas antes está em constante evolução – e a atual “vaga” de imigração é so mais um episódio nesta longa história de desenvolvimento cultural. Ver jovens paquistaneses a jogarem cricket na Almeda em Lisboa num domingo à tarde pode parecer estranho. Mas o mesmo achavam os portugueses de Carcavelos do final do século XIX, quando viam marinheiros ingleses num descampado aos pontapés a uma bola, num jogo a que chamavam football.

Isto significa que o aumento da imigração não coloca problemas? Coloca. Mas importa esclarecer qual a natureza destes problemas. Convém, desde logo, lembrar o quão aterradora é muitas vezes a experiência de imigração para Portugal para quem vem de fora da União Europeia. À saída, significa reunir poupanças – por vezes de uma família inteira - e assumir a responsabilidade de retribuir em dinheiro e géneros no futuro. No trajeto, significa estar à mercê de redes criminosas e do tratamento brutal à mão de estados por onde se passa – muitas vezes financiados pela União Europeia para cometerem atropelos sistemáticos aos direitos humanos. À chegada, significa viver longe da família e amigos, num local estranho, cuja língua se desconhece, cujos hábitos são estranhos e onde se é olhado com desconfiança por causa da cor da pele, da forma como se veste ou como se fala ou da religião que se professa.

Os problemas são assim de dois tipos. O primeiro é o risco de aumento de situações de exploração e de exclusão sociais afetando os imigrantes. Para o contrariar, é necessário investimento específico no combate ao tráfico de seres humanos e à criminalidade que lhe está associada, bem como nas estruturas de acolhimento temporário e de regularização legal à chegada.

O segundo é o aumento da pressão sobre serviços públicos– como a saúde ou a educação – que advém de mais pessoas a procurá-los. Mas aqui a resposta é simplesmente reclamar mais investimento e o contrariar da lógica de austeridade que predura há mais de uma década. É lutar para que todos, portugueses e imigrantes, tenham os seus direitos respeitados e alargados. A luta dos trabalhadores imigrantes é a luta dos trabalhadores portugueses – e vice-versa. Acesso efetivo a habitação digna, à saúde e à educação, combate à exploração no trabalho, luta por salários e condições trabalho dignas ou pelo direito de ter ou reunir uma família têm de ser causas que nos unem, e nunca que nos dividem.

7/05/2025

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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