"A guerra é uma derrota: todas as guerras são uma derrota!"
As palavras que dão origem ao título deste pequeno texto são da autoria do Papa Francisco.

Nuno Pacheco é Sacerdote da Congregação Coração de Jesus.
Escolhi-as não apenas pelo contexto que estamos a viver, de vazio em toda a Igreja Católica pelo termo da sua peregrinação neste mundo, mas sobretudo por ser esta também a maior convicção pessoal sobre a guerra: esta, de Israel contra o povo de Gaza, como todas as outras em todo o mundo, são uma grande derrota para toda a humanidade.
Nas horas seguintes ao anúncio da morte do Papa Francisco fiquei a saber, pelos comentários que foram sendo difundidos pelos mais variados meios de comunicação social, que o Papa ligou cerca de 563 vezes para o Padre Gabriel Romanelli, Pároco da única Igreja Católica em Gaza, durante todo este tempo de conflito bélico. Era costume a chamada acontecer por volta das 19h00 e, nos vários testemunhos recolhidos nas peças jornalísticas, é dito que o Papa se preocupava com cada uma das 600 pessoas amontoadas dentro da Igreja da Sagrada Família e que inclusivamente as conhecia e chamava pelo nome! Nos dias de bombardeios mais intensos por parte de Israel, chegou a telefonar cerca de cinco vezes no mesmo dia para saber como estavam!
Sabemos que a guerra gere ódios e vinganças de ambas as partes são uma constante naquele pedaço de terra. Francisco foi, sem dúvida alguma, uma das vozes mais incansáveis e sonantes a clamar pela paz na Faixa de Gaza, e no dia anterior ao seu falecimento, naquela última aparição em São Pedro para a Bênção Urbi et Orbi (para o povo romano e o de todo o mundo), já em claro esforço e no limite das suas forças, apelou a um cessar-fogo imediato em Gaza, à libertação dos reféns e à ajuda humanitária de um povo faminto à espera de um futuro onde a paz não seja um mero sonho.
Sem medo de ferir os grandes líderes deste mundo, que se mantêm surdos ao clamor deste povo ferido e maltratado, cegos à violência e à mortandade provocada pelas armas que eles próprios ordenam e promovem a venda, e mudos em relação a tudo o que contra a humanidade ali acontece, o Papa Francisco sugeriu que a comunidade internacional investigasse se a campanha militar israelita em Gaza constitui ou não um genocídio, dentro da definição técnica dos juristas e organismos internacionais. Estranhamente, ou não, nada parece ter sido feito.
Declaro-me contra todas as formas de guerra e contra todas as formas de opressão de um povo contra o outro, mas não posso deixar de constatar, com tristeza, que o mundo não olha para todos os povos e seus conflitos da mesma forma, nem exige a mesma justiça! O povo de Gaza parece só, ignorado da cena internacional, longe do destaque que outros conflitos ganharam quase diariamente nos nossos meios de comunicação. Enquanto milhares morrem em Gaza, a política global mantém um silêncio hipócrita, injusto e incompreensível, enquanto “choram” e lamentam a partida do Papa Francisco, mas não honram a sua pessoa nem são capazes de escutar as suas palavras quando afirma que a «guerra é uma derrota para a humidade». Enquanto não houver paz em Gaza e no mundo, a humanidade inteira terá fracassado.
1/05/2025
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