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Os Padres do Pombal

Os "Padres do Pombal" foram na Madeira uma das referências simbólicas dos chamados "padres progressistas". Eram assim conhecidos pelo facto de viverem, a partir de 1966, em comunidade de padres católicos numa residência da Rua do Pombal, no Funchal. Foram eles os padres João da Cruz, Rufino Silva, Lino Cabral e Sidónio Figueira.

Os Padres do Pombal

Nicolas Fernandez é jornalista e mediador de conflitos.

No contexto do Concílio Vaticano II pretenderam aqueles padres impulsionar um projeto de renovação da Igreja Católica na Diocese do Funchal e de transformação da sociedade.

Pelas responsabilidades que tinham nos movimentos da Ação Católica, quer pelas iniciativas de reflexão crítica que desenvolveram em relação à Igreja Católica e à sociedade durante o Estado Novo, quer pela intervenção social, cultural e política que empreenderam, os "Padres do Pombal" fazem parte da memória operante do oposicionismo ao regime fascista.

A estreita proximidade e cooperação dos "Padres do Pombal" com o jornal "Comércio do Funchal", o célebre jornal cor-de-rosa que, com a dinâmica trazida pelo jornalista Vicente Jorge Silva e outros, alcançou forte projeção fora da Madeira), as formas de apoio à candidaturas oposicionistas em 1969 e 1973, assim como, a participação ativa na elaboração da "Carta ao Governador", de 22 de abril de 1969 (com várias reivindicações para o desenvolvimento da região), fazem deste grupo de sacerdotes católicos, não só um referencial no universo do catolicismo social, como também um vetor fundamental na organização do movimento democrático.

Já depois do 25 de abril houve na residência dos sacerdotes um atentado bombista atribuído à FLAMA (Frente de Libertação da Madeira - um movimento de extrema-direita a quem foram atribuídos vários atentados e ameaças na região), com o objetivo claro de eliminar os "Padres do Pombal". Só por um mero acaso (nesse dia precisamente quebraram a rotina) esse objetivo não foi alcançado. Crimes que nunca chegaram a julgamento...

Todos os elementos do grupo de sacerdotes pediram a passagem ao estado laical. Dois deles, Rufino Silva e Lino Cabral já faleceram. Apenas um, Sidónio Figueira permaneceu na região. A pressão política, as sucessivas ameaças terroristas e a própria hierarquia da diocese desencadearam todos os mecanismos possíveis que levaram à exclusão destes e de outros elementos que muito contribuíram para uma consciência mais atuante e empenhada na sociedade e na igreja.

26/12/2023

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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