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O grito - dos mais pobres - silenciado

Um em cada quatro madeirenses vivem em risco de pobreza. Uma taxa, a mais elevada do país, que aumentou em 2023. No país a média ronda os 17%, na Madeira é de 27%.

O grito - dos mais pobres - silenciado

Nicolas Fernandez é jornalista e mediador de conflitos.

A região é segunda do país, logo a seguir aos Açores, com a mais elevada taxa de privação material e social severa. Os dados são do Instituto Nacional de Estatística. Todos os governos gostam de deixar a sua marca e esta é a marca deixada pelos sucessivos executivos do PSD, ora sozinho, ora aliado ao CDS e também ao PAN. E é isto também o que devia estar em causa, na hora do voto, neste domingo, 26 de maio, dia de eleições para a Assembleia Legislativa da Madeira.

Sendo a realidade dinâmica estes números quando são divulgados já estão ultrapassados e podem até ter outras tonalidades bem mais carregadas se tivermos em conta que há fatores de agravamento, como a habitação ou o aumento do custo de vida, por exemplo. O presidente demissionário do Governo Regional desvalorizou estes números. Para Miguel Albuquerque “é normal porque somos ilhas. As ilhas têm sempre um risco superior”.

O Papa Francisco nas diversas intervenções e documentos tem sempre defendido um desenvolvimento humano integral e considera mesmo a pobreza um escândalo. Embora reconheça que “vivemos um momento histórico que não favorece a atenção aos mais pobres, o Papa pede “um sério e eficaz compromisso político e legislativo”. Ou seja, sendo a pobreza um fenómeno estrutural e complexo é sobretudo um problema político que deveria estar no centro do debate, especialmente num período de campanha eleitoral, como aquele em que vivemos.

Nesta matéria, a hierarquia católica e os representantes da igreja diocesana e a comunidades eclesiais, salvo raras exceções, têm primado pelo silêncio, pelo alheamento. Há algum texto, reflexão ou intervenção sobre esta realidade? Não. Em vez de serem a voz dos que não têm voz, em vez de estarem ao lado dos mais fracos, estão sim ao lado dos que têm poder, nalguns casos até a abençoar o governo, nas inaugurações. Para quando uma igreja atenta ao grito dos mais pobres?

23/05/2024

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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