O que significa a paz para os jovens cristãos?
Muito se fala de paz nos dias de hoje, mas o que isso significa para os jovens de hoje? Considero que a paz verdadeira nas nossas vidas, que nos afeta no dia a dia (porque felizmente não vivemos a luta armada no nosso país), só pode ser alcançada com a paz social, com uma sociedade justa, fraterna e igualitária, que não deixe ninguém para trás.
Gabriel Esteves é técnico de manutenção e membro da JOC.
Gosto de considerar a paz como um conceito mais amplo do que muitas vezes a imagem que nos vem à cabeça, acredito que a pensemos maioritariamente com apenas a ausência de guerra ou de violência. Para mim, a Paz trata-se de estado de calma e serenidade, numa sociedade em que sentimos que a justiça, sociedade e igualdade são valores basilares.
Por isso afirmo: não poderá existir paz mundial enquanto não existir paz social.
Ao invés de sermos ensinados e preparados para a cooperação e trabalho em equipa, a nossa sociedade liberal e capitalista ensina-nos a competir e a lutar uns com os outros. Como poderá haver paz numa sociedade assim, em que os jovens são ensinados desde cedo a lutar e competir, acreditando que a única forma de sermos bem-sucedidos é espezinhar os outros e viver da exploração do outro?
Um setor onde o capitalismo selvagem tem tido os seus efeitos mais claros nos dias de hoje é a habitação. Hoje um jovem só tem duas opções neste âmbito: Ou aceita a humilhação de viver com a corda ao pescoço e abdica do mínimo aceitável para viver para poder ter uma habitação, ou aceita a “humilhação” de ficar em casa dos pais pela sua vida a dentro, adiando assim a sua emancipação e vida própria. Enquanto isto for a realidade de cada jovem que conheço, não haverá paz.
Todos sabemos que o salário mínimo tem subido de forma consistente, o que é positivo. No entanto, temos visto o salário médio a manter-se quase constante. Isto face a uma inflação galopante que todos temos sentido, tem levado a uma grande diminuição do poder de compra. Enquanto os jovens viverem com o salário mínimo ou pouco mais que isso, que não permite a ninguém ter uma vida digna e realizada, como poderá haver paz?
Além dos salários, a maior parte dos jovens trabalha com contratos precários, instáveis, ao sabor do vento, sem poder saber o dia de amanhã. Enquanto os jovens viverem constantemente a precariedade, sem um mínimo de estabilidade na vida, como poderá haver paz?
Enquanto os jovens trabalharem em horários rotativos, trabalhando a qualquer dia da semana e a qualquer hora, muitas vezes sem conseguir ver a própria família, como poderá haver paz?
Assim, acredito que a JOC, quando debate todas estas realidades nos seus grupos, quando partilha estas situações vividas e luta pela sua resolução, está a promover a educação para a paz, uma vez que são princípios fundamentais para a atingir. Ao começar por mudar a sua própria mentalidade e dos seus companheiros, ao estar mais desperto, só aí já está a ter um efeito na sociedade. Ao fazer pequenas mudanças, estamos a tornar o mundo mais justo, igual e fraterno. Pode parecer pouco, uma gota no oceano, mas a cada um só se pode pedir o possível e a soma das gotas de água de cada um pode formar um grande mar de gente que só quer um mundo melhor.
Além desta abordagem de paz social, que aqui também deixar outra perspetiva de paz, para um cristão: a paz verdadeira passa por ser capaz de amar o irmão. Ser capaz de abdicar das nossas razões, teimosias, das nossas raivas e ódios e ser capaz de se dar e se unir ao outro, eu e tu, nas nossas relações do dia-a-dia, a começar pela família, amigos e colegas de trabalho.
Por fim quero partilhar a história de vida de Marcel Callo, um dirigente Jocista francês que foi preso, fez trabalhos forçados e morreu num campo de extermínio nazi. Este jovem, em vez de fugir após o bombardeamento da cidade, aceitou ir de livre vontade para o campo de trabalho, para evangelizar os seus companheiros, e tornar a sua vida mais alegre e mudar o mundo, pessoa por pessoa. Dava-se ao trabalho de procurar um padre para celebrar a missa. Conseguiu dar vida a um coro litúrgico, a uma equipa de futebol, a um grupo de teatro e a uma equipa de voluntários para visitar os doentes e distribuir medicamentos. Deu a sua vida para salvar as dos seus colegas.
Hoje é para nós, jovens da JOC, um exemplo. Olhemos para este exemplo extremo como motivação para levarmos a paz onde existe guerra, no nosso dia a dia, dia após dia.
Viva a paz!
12/12/2023
A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.