Liberdade, liberdade
O nosso país comemora neste dia o 25 de abril de 1974, o Dia da Liberdade.
Há 50 anos, deu-se a denominada revolução dos cravos, porque do cano das armas, não saíram balas, mas cravos vermelhos.

José Luís Rodrigues é padre e pároco de São Roque e São José, no Funchal.
Tinha chegado ao fim uma ditadura fascista de 48 anos, que se manteve tão longo tempo sob o fertilizante da perseguição às liberdades dos cidadãos.
A longa rede de cúmplices, mantidos na almofada dos privilégios e das mordomias contribuíram para manter a ditadura que diabolizava as diferenças, o pensamento livre, valorizava a pobreza e o analfabetismo como métodos de domínio. Daí que se algo destoasse disto seria combatido com toda a violência, vigilância e perseguição arbitrária.
Um povo inteiro amordaçado no reduto da miséria ignóbil.
A liberdade é o que há de mais fundo no ser humano para o elevar à dignidade de ser o que é.
A liberdade é um valor afirmado, universal e absoluto. Cada um tem o direito a pensar, exprimir o que pensa, a fazer e viver como entender. É esquisito encontrar gente que não gosta disto e que defende que se deve combater este este jeito de viver com imposições e proibições.
Tenho apreciado toda a história e todas as histórias maravilhosas destes 50 anos do 25 de Abril de 1974. Mas é preciso também perguntar o seguinte: será que somos mesmo livres e felizes?
É óbvio que vivemos muito melhor que os nossos avós e pais. Apesar de tanta coisa mal que anda por aí, somos mais felizes e mais livres.
Porém, é crucial, para hoje e para o futuro, lembrar que não há liberdade sem responsabilidade, sem respeito pelo bem comum, sem encontro com os outros, sem consciência social e consciência ecológica.
A liberdade só e apenas centrada nos direitos individuais, de forma fundamentalista, gera isolamento e leva as pessoas a viverem centradas em si mesmas contra o que pulsa de modo tão diferente de dia para dia e nos mais diversos contextos do mundo de hoje.
O Papa Francisco definiu a liberdade da seguinte forma: «a liberdade guiada pelo amor é a única que liberta os outros e a nós mesmos, que sabe ouvir sem impor, que sabe amar sem forçar, que constrói e não destrói, que não explora os demais para a sua conveniência e que pratica o bem sem procurar o próprio benefício».
Como cidadãos e cristãos, com mente aberta, cabe-nos promover a liberdade, o pensamento livre e a vontade de o exprimir sem medo. Estes valores emanam do espírito do 25 de Abril, cabe-nos manter e alimentar este espírito com coragem, não permitindo que as injustiças, hoje alimentadas pelos poderes interesseiros que se instalam manhosamente na onda da democracia, vençam.
Não há outro Deus que não seja Aquele que deseja que sejamos livres e capazes de viver a liberdade diante dos outros e da natureza com toda a responsabilidade. Viva o 25 de Abril. 25 de Abril sempre.
11/05/2024
A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.