Homem das bem-aventuranças - «às alturas»
No domingo 7 de setembro de 2025 o Papa Leão XIV, procedeu à canonização de dois beatos, Carlo Acutis e Pier Giorgio Frassati.

José Luís Rodrigues é padre e pároco de São Roque e São José, no Funchal.
Acutis, um adolescente, que faleceu com 15 anos, vítima de leucemia, apresentado como um modelo de santidade pela sua fervorosa prática religiosa e como «génio» da informática.
Frassati morreu com 24 anos a 4 de julho de 1925, vencido por uma meningite fulminante. Mesmo com poucos anos de vida terrena destacou-se em vários campos onde deixou profunda e extraordinária marca inspiradora.
Para o contexto desta reflexão deixo Acutis para outro momento e vou restringir-me a alguns aspetos de Pier Giorgio Frassati, dado que dele podemos retirar inspiração e ensinamentos para iluminar o tempo e o vento que passa nos nossos dias.
Numa fotografia do que seria a sua última escalada, Frassati escreveu no verso «L’ALTO» («às alturas»). Esta expressão tornou-se lema daqueles que têm Frassati como inspiração.
Nasceu em Turim, Norte de Itália, era alpinista e pertenceu à Ordem Dominicana Terceira, conhecido pela sua ação caritativa. Em 1990 foi beatificado por João Paulo II, que o designou de «Homem das bem-aventuranças». Veremos como faz todo o sentido esta expressão aplicada ao jovem Frassati.
Tenho em conta três dimensões da sua vida que considero relevantes para o nosso propósito: a religiosa, a política e a social.
No âmbito religioso, destaque-se a sua profunda fé, não dispensava a oração quotidiana e traduzia tudo isso com uma prática também diária nas obras de caridade e solidariedade que implementava em favor do próximo. Tudo iluminado por Jesus Cristo e uma devoção mariana fervorosa.
No domínio social, guiou-se pela ideia de que só fazia sentido a vida quando está toda ela na senda do serviço a Deus na humanidade. Por isso, lê-se no Decreto sobre as virtudes heroicas de Pier Giorgio Frassati: «A caridade de Cristo defende a liberdade e apoia a justiça social como consequência lógica de uma conceção cristã do homem e do mundo… Portanto, a caridade de Pier Giorgio é uma virtude que anima o seu emprenho social e político».
No campo político foi marcado por uma entrega firme contra o fascismo e os fascistas que ele apelidava de «porcos». Foi um democrata convicto e um irredutível antifascista.
Não tinha medo de expressar as suas ideias e opiniões, sendo ao mesmo tempo respeitador das dos outros.
Dizia que «no momento da insurreição política fatalmente sangrenta, os oprimidos haveriam de pedir contas a todos os católicos pelo apoio que tinham dado tão facilmente aos fortes, aos prepotentes, aos imorais… Terá de haver – sustentava convictamente – a possibilidade de que, naquele dia, pelo menos um ínfimo grupo de católicos possa aparecer de cabeça levantada e afirmar que nem todos traíram».
Não estamos longe de dizermos o mesmo a tantos católicos de hoje, que andam tão exaltados no apoio e votação em partidos que se inspiram no ressentimento e no ódio contra o outro por ser diferente.
No ambiente fascista do tempo de Frassati, ele sofreu todas as adversidades, foi perseguido, espancado e preso pelas forças de segurança fascistas.
Mas regozijava-se assim: «felizes de nós que hoje podemos gloriar-nos e gabar-nos disto, de estar sempre contra este partido, formado por uma associação de delinquentes ou ladrões ou assassinos ou idiotas, em suma, o próprio fascismo».
Ontem como hoje, aos cristãos do bem, assistem a este drama, muitos cristãos/católicos são apoiantes de regimes totalitários, levados por erros de avaliação, por malabarismos demagógicos ou populistas, sonhando com vantagens que venham a usufruir dos radicalismos. E neste campo também se vê entusiasmos e misturas eclesiais perigosas.
Face a este contexto dizia Frassati a quem procura o bem: «É melhor estarmos sós! Mas com a consciência limpa, do que juntos, como todos os outros, e com uma grande mancha na consciência».
Este domingo se escutarmos o nome de Pier Giorgio Frassati pela comunicação social, lembremos que dele imana inspiração para nos fazer corajosos na defesa dos valores democráticos da liberdade, da igualdade e da fraternidade. É dever da política promover este caminho sem medo pela liberdade como valor máximo da existência. E nesta «luta» não podem faltar os cristãos de todos os quadrantes.
Diante desta ideia de liberdade, a 28 de janeiro de 1923, Frassati escreveu a um amigo, após um recuo no Congresso do Partido Popular, em Turim, que deixaria de votar uma moção crítica contra o governo de Mussolini com receio de que viessem fraturas: «Perdemos a coisa mais bela e melhor que Deus deu a todos os homens ou, seja, a liberdade, sem a qual a vida se torna insuportável».
Por nada deste mundo nos deixemos esmagar, mesmo que se saiba que «infelizmente, quando se trata de ascender às honras do mundo, os homens espezinham a sua consciência», disse Frassati.
Nós que somos do bem, não sejamos perdedores «dessa coisa mais bela e melhor», a liberdade. Que São Giorgio Frassati nos ajude.
13/09/2025
A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.
