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Reflexão: Rev. Tim Yeager
A esperança revolucionária do Natal

Rev. Tim Yeager é conhecido como activista pelos direitos laborais e civis e pela paz nos EUA e é padre da Igreja Episcopal, actualmente associado da Catedral de Sto. Albano, Reino Unido.

O Natal pode ser tão deprimente. Ele traz à tona algumas das piores características do capitalismo e esfrega-as nas nossas caras. É impossível escaparmos, seja qual for a nossa crença filosófica ou religiosa.

 

Os anúncios estimulam sentimentos de culpa se não comprarmos o suficiente dos tipos certos de produtos de consumo para as pessoas que amamos. O financiamento criativo é oferecido para que os credores possam obter ainda mais lucros. E é um desastre ambiental... mais plástico, cartão e embalagens são produzidos, embrulhados e despejados em aterros, lotes vagos e incineradoras na época do Natal do que em qualquer outra época do ano.

 

E, no entanto,... Quase sufocado sob pilhas de catálogos de prendas e circulares de venda, quase afogado num mar de canções de Natal de música de elevador sintetizada, num cofre teológico trancado e guardado ao longo dos séculos por legiões de pregadores, sacerdotes e pontífices, queima uma chama secreta persistente.

 

É a chama de uma esperança revolucionária — esperança de um mundo melhor, uma sociedade mais justa, onde a ordem social é virada de cabeça para baixo para que os pobres sejam alimentados e os ricos sejam aliviados dos seus ganhos mal obtidos. E é algo com o qual as pessoas trabalhadoras de qualquer cultura, qualquer origem religiosa ou filosófica, se podem relacionar.

 

O que é que o Natal tem a ver com a luta de classes? Numa palavra, tudo. A história é assim:

 

Era uma vez, numa terra distante na periferia de um grande império, um povo com uma cultura antiga, um passado histórico e uma grande literatura, que havia sido conquistado por um poder imperial tecnologicamente avançado. Eles foram ocupados por soldados estrangeiros e governados por déspotas locais corruptos que colaboraram com os opressores estrangeiros. Houve revoltas periódicas de camponeses e escravos locais que foram derrubadas sem piedade.

 

No meio de tudo isso, uma jovem solteira engravida fora do casamento. Podemos pensar que ela se arrependeria desse desenvolvimento, mas, pelo contrário, ela encontra no nascimento antecipado de uma criança uma razão para se alegrar e ter esperança num mundo melhor. Na sua alegria e determinação, ela canta uma antiga canção de libertação:

 

“A minha alma glorifica o Senhor
e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
Porque pôs os olhos na humildade da sua serva.
De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações.
O Todo-poderoso fez em mim maravilhas.
Santo é o seu nome.
A sua misericórdia se estende de geração em geração 
sobre aqueles que o temem.
Manifestou o poder do seu braço
e dispersou os soberbos.
Derrubou os poderosos de seus tronos
e exaltou os humildes.
Aos famintos encheu de bens
e aos ricos despediu de mãos vazias.” (Lc 1,46-53)

 

Ela e o seu noivo são, então, forçados a fazer uma jornada difícil quando ela está nas últimas semanas da sua gravidez, ostensivamente para cumprir as demandas dos seus governantes imperiais de se registrarem para um censo. É-lhes negada a hospedagem em estalagens locais. Sem-abrigo, a jovem família abriga-se num estábulo, onde a mãe entra em trabalho de parto e dá à luz um menino entre os animais do celeiro.

 

Dificilmente pode ser visto como um começo auspicioso para uma criança em quem a sua mãe havia colocado tanta esperança. E depois as coisas pioram. O governante local, um colaborador que é mantido no poder através de um exército de ocupação, decide sobre um acto de terror. Convencido de que uma revolta se está a organizar na aldeia, onde o jovem casal acabou de ter o seu bebé, ele envia esquadrões de morte para matar todos os filhos do sexo masculino com menos de uma certa idade.

 

Felizmente, a jovem família é avisada e fogem para um país vizinho. Lá, esperam até receber notícias da morte do seu déspota local corrupto e, posteriormente, regressam para criar o seu filho na sua cidade natal. Quando ele cresce, o garoto torna-se um carpinteiro. Como que para cumprir a esperança revolucionária expressa na música da sua mãe, ele vai organizar um movimento para a mudança social e económica. É composto de uma coligação de pescadores, antigas prostitutas, desempregados e funcionários públicos de baixo nível, com uma secção transversal de homens e mulheres, e pessoas de diferentes origens étnicas.

 

Os objetivos do movimento são claros desde o início:

 

“O Espírito do Senhor está sobre mim, 
porque me ungiu 
para anunciar a Boa-Nova aos pobres;
enviou-me 
a proclamar a libertação aos cativos 
e, aos cegos, a recuperação da vista;
a mandar em liberdade os oprimidos,
19a proclamar um ano favorável da parte do Senhor.” (Lc 4,18-19)

 

E, assim, quando olhamos a história de Natal de perto, encontramos uma história de pessoas da classe trabalhadora vivendo em tempos difíceis, em circunstâncias não muito diferentes daquelas enfrentadas hoje por milhões de pessoas. Estas são pessoas que estão cientes da sua história de luta. Elas tiram força das lições do passado e nutrem esperanças e sonhos por um mundo melhor.

 

Maria, a jovem mãe na história de Natal, está extremamente confiante de que o futuro será melhor. A sua canção, conhecida como “Magnificat”, é nada menos do que revolucionária. Este aspecto revolucionário do Natal também pode ser encontrado na popular canção de Natal, “Ó Noite Santa” (“O Holy Night”). As palavras foram escritas pelo socialista francês Placide Cappeau de Roquemaure, e foram traduzidas para inglês pelo abolicionista americano John Sullivan Dwight. A música foi escrita por Adolphe Charles Adam, um amigo de Cappeau. Um verso da canção afirma:

 

“Ele ensinou verdadeiramente a nos amarmos uns aos outros;

A Sua lei é o amor e o Seu evangelho é a paz.

Ele quebrará as correntes, pois o escravo é nosso irmão;

E em Seu nome toda a opressão cessará!”

 

As ramificações políticas desta canção foram bem compreendidas por alguns reaccionários americanos e continua a ser controversa. A música foi banida por anos em muitas igrejas conservadoras nos EUA, e muitas estações de rádio no Sul recusaram-se a tocá-la.

 

Portanto, sempre que se sentir cansado das festas e de toda tolice que as rodeia, lembre-se da jovem família da história de Natal, como esperavam e sonharam com uma transformação revolucionária do seu país e como perseveraram diante da opressão.

 

Quem quer que você seja, tenha um Natal feliz e revolucionário. E vamos entrar no novo ano firmes em acabar com a falta de habitação, a pobreza, o racismo e a injustiça de uma vez por todas!

 

21.12.2022

Republicado com autorização do autor. Originalmente publicado em: https://www.peoplesworld.org/article/the-revolutionary-hope-of-christmas-4/.

Tradução: SDB

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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