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Paz e comunhão (2)

Disse no início que estas mensagens têm sempre uma situação histórica muito precisa como pano de fundo.

Paz e comunhão (2)

Sérgio Dias Branco é professor da Universidade de Coimbra, dirigente da CGTP-IN, e leigo da Ordem Dominicana da Igreja Católica.

No entanto, também deve reconhecido que os problemas que colocam obstáculos à paz arrastam-se e permanecem muitas vezes por resolver, reaparecendo noutras roupagens, mesmo que também surjam novos desafios. Neste sentido, a mensagem que o recém-falecido Papa Bento XVI escreveu para a celebração do Dia Mundial da Paz em 2013 continua muito relevante. Ao confrontar problemas estruturais nas relações económicas e laborais do mundo contemporâneo que não desapareceram, antes se agravaram em anos recentes como Francisco indica, estas palavras de Bento XVI mantêm toda a actualidade:

O obreiro da paz deve ter presente também que as ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia insinuam, numa percentagem cada vez maior da opinião pública, a convicção de que o crescimento económico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil, bem como dos direitos e deveres sociais. Ora, há que considerar que estes direitos e deveres são fundamentais para a plena realização de outros, a começar pelos direitos civis e políticos.

E, entre os direitos e deveres sociais atualmente mais ameaçados, conta-se o direito ao trabalho. Isto é devido ao facto, que se verifica cada vez mais, de o trabalho e o justo reconhecimento do estatuto jurídico dos trabalhadores não serem adequadamente valorizados, porque o crescimento económico dependeria sobretudo da liberdade total dos mercados. Assim o trabalho é considerado uma variável dependente dos mecanismos económicos e financeiros. (1)

Ao intensificarem ou evidenciarem problemas existentes, as crises abalam a nossa vida e a nossa percepção da vida, colocando-a em perspectiva. Como vinca Francisco, “dos momentos de crise, nunca saímos iguais” (2). Segundo ele, a herança que este tempo nos deixou foi “a consciência de que todos precisamos uns dos outros, que o nosso maior tesouro, ainda que o mais frágil, é a fraternidade humana, fundada na filiação divina comum, e que ninguém pode salvar-se sozinho” (3). “Ninguém Se Salva Sozinho: Paz e Fraternidade” foi o título dado ao encontro internacional e ecuménico de oração em prol da paz promovido pela Comunidade de Santo Egídio em 20 de Outubro de 2020. No seu discurso para essa iniciativa, proferido na Praça do Capitólio em Roma, Francisco disse: “Os crentes compreenderam que a diversidade de religião não justifica a indiferença nem a inimizade. Antes pelo contrário, a partir da fé religiosa, é possível tornar-se artesãos de paz e não espectadores inertes do mal da guerra e do ódio” (4).

27/01/2023

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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(1) Papa Bento XVI, “Mensagem para a Celebração do XLVI Dia Mundial da Paz: Bem-Aventurados os Obreiros da Paz,” 1 Jan. 2013, 4, https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/messages/peace/documents/hf_ben-xvi_mes_20121208_xlvi-world-day-peace.html.
(2) Papa Francisco, “Mensagem para a Celebração do 56.º Dia Mundial da Paz,” 3.
(3) Ibid.
(4) Francisco, “Discurso do Papa Francisco,” 20 Out. 2020, par. 3, https://www.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2020/documents/papa-francesco_20201020_omelia-pace.html.

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