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Páscoa é “passagem” para a libertação

Vivemos uma quaresma do tempo litúrgico que nos pode e deve inspirar para as mudanças a fazer no tempo presente e, como vemos, são muitas, para que uma autêntica transformação da sociedade aconteça.

Páscoa é “passagem” para a libertação

Deolinda Carvalho Machado é professora, dirigente associativa e da LOC-MTC.

São sobretudo, mudanças para os caminhos da Paz dos povos, não do negócio da guerra e de quem com ela lucra. Mudança para a humanização das relações em todos os domínios das nossas vidas.

Não podemos consentir no avanço das desigualdades e sermos indiferentes à escravatura que acontece no mundo do trabalho, da fome, da pobreza e exclusões de toda a ordem.

Temos de unir esforços e travar estes combates no nosso quotidiano. Isto é preparação para a Páscoa. Trata-se da passagem de políticas (que reduzem as pessoas a números, que escravizam e condenam ao sofrimento e morte) para outras políticas, isto é, para a libertação deste aprisionamento dos seres humanos. Isto é válido para as exigências que temos de continuar a fazer junto das instâncias a nível nacional, europeu e mundial.

Esta é uma exigência do tempo que vivemos, que tem de implicar-nos. É para nós esta tarefa, este desafio de mudança de políticas.

A palavra Páscoa está ligada a “PASSAGEM”.

Passagem do inverno para a primavera, nas celebrações pagãs;

Passagem da escravatura para a liberdade, nas celebrações judaicas;

Passagem da morte para a Vida, na celebração da ressurreição de Jesus Cristo, nas celebrações cristãs.
Depois da Páscoa estaremos a comemorar 50 anos da Revolução de Abril, e na semana seguinte estaremos a celebrar o primeiro 1º de Maio vivido em liberdade, em Portugal (dia de S. José e dia do Trabalhador).

Como celebramos e vivemos estas datas históricas? Como queremos que se projete para o futuro o 25 de Abril que falta acontecer? Como alertamos as consciências das novas gerações para as armadilhas populistas e as motivamos para que passem a reivindicar seus direitos, conhecendo-os, bem como os deveres associados de participar ativamente, numa cidadania praticante?

Trata-se de datas que constituem marcos históricos da luta emancipadora das mulheres e dos homens trabalhadores, dos povos contra a opressão, em defesa da liberdade e da democracia contra as ditaduras fascistas, de mercado, do capital financeiro, ou de outras roupagens de que se revestem.

Urge de forma determinante a criação de emprego de qualidade com salários justos, a aposta na educação para todos, a habitação condigna, saúde e justiça a que todos tenhamos acesso. A aposta no investimento público e privado, para que os serviços prestados aos cidadãos sejam em quantidade e em qualidade, de forma a que os nossos idosos encontrem respostas humanizadoras e personalizadas, como merecem depois de uma vida inteira de trabalho.

Não podemos continuar a ser campeões no domínio das desigualdades, no valor dos salários, apesar de termos das melhores formações de profissionais de que são exemplo a saúde e a engenharia, e que outros países vêm cá recrutar a custo zero, e nós a precisarmos desses jovens para criarmos inovação, ciência, riqueza neste país.

As crianças continuam a ser um indicador do risco de pobreza ou de exclusão social. Este não pode ser o futuro que temos para lhes proporcionar. As crianças crescem agora e não podem esperar que a economia cresça.

Urge erradicar estas políticas que conduzem os povos à pobreza, que conduzem à alienação da independência e soberania nacional, violando reiteradamente a Constituição da República Portuguesa. Urge promover uma cultura de coesão nacional, territorial e social.

Temos de murar o medo, como bem refere, Mia Couto.

Vamos trabalhar pela erradicação da pobreza. Diz o Papa Francisco que “os direitos humanos são violados também (…) pela existência de extrema pobreza e estruturas económicas injustas, que originam as grandes desigualdades”.

Por isso, temos de continuar a nossa militância na luta contra a pobreza e a exclusão social, contra a indiferença, contra a precariedade no trabalho, a emigração forçada, a falência de empresas, o modelo de baixos salários e pensões. Segundo o INE continuamos a ter trabalhadores que, apesar de trabalharem, continuam a ser pobres. Não ganham o suficiente para o seu sustento e da sua família.

Com quase 900 anos de História não vamos baixar os braços. Sigamos o exemplo dos que nos precederam na organização e na luta em defesa de um mundo mais justo e solidário.

É o tempo maduro para o processo de libertação, de que nos fala Leonardo Boff. Primeiro na mente. Depois na organização. Por fim na prática.

Libertação significa a ação que liberta a liberdade cativa. A libertação começa na vossa consciência e no resgate da vossa própria dignidade, feita mediante uma prática consequente.

Os valores evangélicos são compatíveis com a luta sindical na medida em que há identidade nos princípios e valores defendidos, no respeito pelos direitos humanos.

Dia 25 de Abril e 1 de Maio mobilizemo-nos todos, levemos um amigo que trará outro amigo, também… e trabalhadores e povo engrossaremos as fileiras das comemorações e da luta de todos os dias, por mais e melhores condições de vida e de trabalho.

Vamos continuar o nosso trabalho em defesa da Paz, da justiça, da liberdade, da democracia, da igualdade e da soberania.

Unamo-nos na edificação desta causa maior!

30/03/2024

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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