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Da justiça social ainda por cumprir… (2)

Este olhar plural consonante de muitos de nós manifesta-se na realidade do sector solidário e social. As entidades de economia social forma obrigadas a reinventar-se passando do modelo assistencial para uma prática profissional, mas capacitada, também porque a realidade sociológica tem vindo a mudar.

Da justiça social ainda por cumprir… (2)

Duarte Nuno Morgado é formado em Teologia, membro de diversas associações de cariz cultural e social e atualmente Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Loures.

O tempo é condutor das sociedades e traz com a cultura em mutação contínua, novas práticas e novos olhares. Mas aquilo que era uma realidade associativa, familiar, de proximidade, informal, genuína e generosa, é hoje um novo mundo com a mudança paradigmática em que as antigas entidades socio-caritativas são hoje empresas sociais. Mas continuam a ser o garante da substituição do papel do Estado demissionário do seu papel de primeiro responsável pelos casos de fragilidade social. Porque bem sabemos que por muitas comparticipações que vão surgindo em programas vários de incentivo e apoio, há muito que é praticado pela organização das chamadas instituições particulares de solidariedade social, onde as Misericórdias se destacam pela abrangência e pela sua antiguidade.

Que se pode esperar destas entidades? Tudo. Porque são obrigadas pela realidade social do país, a tentar dar tudo. Do emprego à habitação, da alimentação ao apoio ao estudo, do acolhimento de pessoas em situação sem abrigo ao pagamento de faturas com ameaças de corte, quer de luz, quer de água ou de gás, e por aí em diante. Basta conhecer o sector solidário para compreender quantos milhares de portugueses carecem de maior apoio. Das reformas e pensões ao rendimento social de inserção, da inflação desmedida ao abuso do mercado da habitação e do arrendamento, o que podemos esperar também?

Viver em ambiente de injustiça social é aquilo a que nos temos vindo a habituar. Para cada medida nova de apoio há sempre um “mas” para o qual dificilmente há resposta. Basta ver como a nossa população amplamente envelhecida e desgastada pelo fracasso de políticas enraizadas na lógica do apoio extraordinário e provisório, e pouco sedimentadas em políticas estruturais definidoras de uma sociedade mais capacitada, preparada para combater o envelhecimento de um país onde a sua regeneração natural não é possível por falta de condições reais para que as famílias subsistam sem um dependência permanente, perpetuando ciclos de pobreza e de frustração social, contribuindo para um país igualmente mais triste e mais fragilizado na sua própria identidade.

Da infância ao envelhecimento, passando pela deficiência, verifica-se a necessidade de maiores apoios que permitam a implementação de projetos sociais decisivos para a melhoria de condições junto das populações em situação de carência socioeconómica, a par de que toda a sociedade se ressinta mais depauperada e secundarizada face a políticas preenchidas de vazio ao invés de serem enriquecidas de cumprimento de promessas de décadas sem a materialização necessária à transformação social.

15/02/2023

A equipa assume a gestão editorial de Terra da Fraternidade, mas os textos de reflexão vinculam apenas quem os assina.

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